O Estado de S. Paulo |
3/11/2006 |
A fala inaugural do governador eleitor de São Paulo, José Serra, em sua primeira entrevista depois da eleição, na terça-feira, não recebeu a devida atenção e, por isso, foi interpretada com ligeireza. Ligeira o bastante para permitir que se enxergassem no discurso intenções politicamente amenas para com o governo federal. O discurso de Serra ficou muito longe disso. No texto de apenas duas páginas, tudo pareceu muito bem calculado para não deixar de fora críticas à condução da política econômica e da administração do social, a defesa da obra tucana na construção da estabilidade, a definição do crescimento como meta, e, no campo político, a nitidez de posição com equilíbrio institucional. "Não esperem de mim o adesismo que não se respeita nem a agressão que não oferece respeito", disse para resumir seu pensamento. José Serra antecipou agenda de atuação tanto no âmbito local quanto no cenário nacional e passou nela um recado: vai disputar com o PT o eleitorado mais pobre, sem deixar de falar à classe média. Isso está dito lá, basta ler. Serra fala em "governo popular" e anuncia como pontos principais de sua pauta de trabalho para os próximos quatro anos a dedicação primordial à saúde e à segurança pública. Dois temas que atingem todas as faixas da população, mas são mais sensíveis às camadas mais pobres, capazes de rivalizar com o assistencialismo do PT. Se for bem-sucedido em seus planos, os transformará em bandeiras de visibilidade nacional. Para garantir lugar para além das fronteiras paulistas, Serra na sua primeira manifestação oficial discorreu como porta-voz da necessidade de alteração dos rumos da economia e firmou profissão de fé no terreno que o adversário procura demarcar com exclusividade para si, o desenvolvimento. Na defesa do tema, buscou esvaziar o caráter pejorativo do termo - "nos últimos tempos virou palavrão e desenvolvimentista tornou-se um insulto" - e já apresentou o formato da abordagem que dará ao assunto: "Nossa tarefa é desmontar a armadilha anticrescimento que inibe a produção, fecha fábricas, esmaga o emprego, desqualifica o mercado de trabalho." Sem condenar, apontou a deficiência da política social assistencialista - "justa, mas insuficiente" - que em ambiente de baixo crescimento "redistribui apenas a pobreza, torna os mais necessitados clientela cativa das políticas compensatórias". Fez afirmação partidária ao atribuir nominalmente a Fernando Henrique Cardoso a autoria da "monumental obra que devolveu ao Brasil o valor da moeda" e pontuou o fato de Lula tê-la preservado e a ela se associado. "Mas ninguém deve tolerar estagnação econômica por timidez ou mesmo por covardia", ressalvou. No plano da disputa política, a interpretação de que Serra aceitaria uma aliança com o governo federal possivelmente teve origem na frase de rejeição ao "quanto pior melhor" e no alerta de que ele não dará, no governo de São Paulo, "eco aos que quiserem acender rivalidades fictícias e fora de lugar e de hora, contrariando os interesses do povo brasileiro". Com isso quis dizer que não fará oposição estridente ou gratuitamente agressiva. E aí reside exatamente o ponto revelador de suas intenções francamente oposicionistas: para se viabilizar como alternativa de poder mais adiante, não pode figurar no cenário como incendiário, leviano e muito menos se expor a acusações de que fará do governo de São Paulo um palanque armado para a disputa pela Presidência da República em 2010. Quanto mais sóbrio for, mais ganhos políticos obterá. Com a consciência, porém, de que a firmeza de posição será a melhor companheira. A obediência a essa receita expressou com todas as letras: "Seremos oposição no plano federal justamente porque não somos iguais. Diante de cada projeto de lei ou emenda constitucional, saberemos separar o que beneficia o País do que o atrasa; os interesses do governo e os interesses do Estado; as conveniências de um partido dos anseios da Nação." Quer dizer, apoio no Congresso a propostas úteis e factíveis, sem por isso adotar submissão aos ditames do governo e do PT nem considerar que à oposição cabe a responsabilidade pela condução do País. "Temos presente que a governabilidade é tarefa de quem obteve nas urnas o mandato para governar." Quando Serra, em seu discurso, disse que não lhe "passa pela cabeça" transferir para a oposição, no caso o PT, "o dever de assegurar a governabilidade do Estado que me elegeu", deixou implícito que a recíproca é verdadeira. "À oposição cabe se opor não a tudo e a todos, mas ao que, a seu juízo, atente contra o espírito das leis, os fundamentos do Estado e os interesses da maioria. Isso vale para o Brasil. Isso vale para São Paulo." Não se trata, pois, de aceitação de alianças. Ao contrário. Trata-se do primeiro e estratégico movimento de um aspirante à sucessão presidencial de 2010 pelo campo da oposição a Lula buscando fazer o que não foi feito em 2006 nem em 2002: construir paulatina e solidamente uma candidatura.
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Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, novembro 03, 2006
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