Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 03, 2006

Eliane Cantanhede - Militar ou civil?



Folha de S. Paulo
3/11/2006

O acidente com o Boeing da Gol, matando 154 pessoas, não foi apenas o maior da história da aviação civil brasileira. Foi também o detonador de um movimento de insatisfação dos controladores de vôo e de uma discussão que vem desde a década de 1970: o sistema de controle de tráfego aéreo deve ou não ser militar? Na década de 1970, era militar.
Na de 1980, passou a ser misto, sob comando militar, e logo houve ameaças de greve. Na de 1990, já no governo FHC, começou-se a desmilitarização lentamente, a partir da criação do Ministério da Defesa e do projeto da Anac (a agência da aviação civil).
E chegamos a 2006 com uma típica operação-padrão -que, pela lei, é um direito restrito a civis. Os militares são proibidos de fazer greve, de se associar a sindicatos e associações e até de fazer "reivindicações". Para eles, só é permitido ter "anseios" ou "aspirações".
O que complica os limites entre civis e militares, depois do acidente e no meio do caos em aeroportos, é que o PT está no poder e tem forte base sindical. Eis que, além de militares se comportarem como sindicalistas, eles passam a ter apoio em setores poderosos do governo, para o bem e para o mal.
O ministro da Defesa, Waldir Pires, assumiu o papel de porta-voz do governo na crise e se reuniu com representantes dos controladores sem chamar ninguém da Aeronáutica, apesar de só um quarto dos controladores ser civil. E o ministro do Trabalho, sindicalista Luiz Marinho, se meteu na história. É uma fagulha política que, junto com o caos em aeroportos, atrapalha a festa da reeleição de Lula.
O acidente do Boeing foi uma tragédia histórica no Brasil e está produzindo uma reação em cadeia, com desdobramentos ainda imprevisíveis. Um curto-circuito entre civis e militares não convém a ninguém.

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