Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 03, 2006

Clóvis Rossi - Cenas patéticas



Folha de S. Paulo
3/11/2006

Em 1989, na véspera da posse (a primeira) de Carlos Saúl Menem na presidência argentina, fiz longo plantão no hotel Alvear à espera da clássica entrevista pingue-pongue com ele. Já era insólito encontrar o herdeiro do movimento dos "descamisados" alojado no Alvear, o mais luxuoso hotel argentino. Mais insólito foi encontrar um livro de Álvaro Alsogaray à mesa de Menem quando me recebeu. Alsogaray era uma espécie de Roberto Campos argentino, campeão do ultraliberalismo, de uma família que cansara de conspirar contra Perón e o peronismo. À saída, cruzei com Cláudia Bello, da Juventude Peronista, um dos braços de esquerda do multifacético peronismo. Perguntei se viera ver o "compañero" Alsogaray (os peronistas também se tratam por "companheiros"). Respondeu com um sonoríssimo palavrão. Palavrão que o futuro tornaria injustificado: o governo Menem foi mais ultraliberal do que até Alsogaray defenderia. As cenas de 1989 voltam à memória ao ver o minueto que Lula dança com Delfim Netto e as especulações sobre a eventualidade de o empresário Jorge Gerdau Johannpeter ser ministro (pelo pouco que conversei com ele, acho até que seria um bom ministro, mas não é esse o ponto aqui). O insólito, no caso, não é a conversão de Lula, feita já no primeiro mandato. Patética é a desculpa que setores da esquerda deram para votar nele de novo: seria a maneira de forçar uma guinada à esquerda no segundo mandato. Comportamento Cláudia Bello típico. Basta ver as fotos: em qual delas João Pedro Stédile, do MST, aparece na platéia dos debates, como claque de Lula, ao contrário, por exemplo, de Delfim Netto? Ah, Menem também foi popular, tanto que se reelegeu -e no primeiro turno, ao contrário de Lula. O que veio depois, você sabe. crossi uol.com.br

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