Artigo - Rolf Kuntz |
O Estado de S. Paulo |
9/11/2006 |
Há 52 anos, derrotados em Diem Bien Phu, os franceses deixaram a Indochina. O país dividiu-se em dois. Em 1975 as forças do Vietnã do Norte expulsaram as tropas americanas, ocuparam Saigon e mudaram seu nome para Ho Chi Minh, em homenagem ao líder morto em 1969. Em 1976 o país foi oficialmente reunificado sob regime comunista. Coube a um francês, anteontem, celebrar com discurso e champanha o ingresso do Vietnã como o 150º membro da Organização Mundial do Comércio (OMC). Pascal Lamy, diretor-geral da entidade, aprendeu uma expressão vietnamita para encerrar seu pronunciamento: xin chuc mung, congratulações. Ao lado de Pascal Lamy estavam o ministro do Comércio Exterior, Truong Dinh Tuyen, o vice primeiro-ministro Pham Gia Kiem e outros funcionários vietnamitas. Ao aprovar o ingresso do novo sócio, o Conselho Geral da OMC havia oficializado o sucesso de 11 anos de complicadas negociações. Durante esse período, o Vietnã se manteve entre os países de maior crescimento econômico, maior expansão comercial. Foi uma fase de grande transformação e de intenso trabalho de integração nos mercados globais. Ao vencer a guerra, em 1975, o Vietnã era um dos países mais pobres da Ásia. Ainda é uma economia pequena. Em 2005, seu Produto Interno Bruto (PIB) alcançou o valor de US$ 52,4 bilhões, medido em dólares correntes. Quando se considera a paridade do poder de compra, chega-se a um número muito maior, próximo de US$ 250 bilhões, mas ainda modesto. Para chegar a esse ponto, a economia vietnamita cresceu pouco mais que 7% ao ano entre 1995 e 2005. No mesmo período, suas exportações de mercadorias aumentaram à taxa média anual de 19%. No ano passado, o Vietnã exportou R$ 31,6 bilhões e ficou em 50º lugar na lista divulgada ontem pela OMC. O valor exportado cresceu 23%, a mesma taxa de expansão das vendas brasileiras. Deixando-se de lado os grandes produtores de petróleo, o Vietnã foi um dos cinco países com melhor desempenho exportador em termos de crescimento. Os outros foram a China, com expansão de 28%, a Índia (26%), o Chile (26%) e o Brasil. O Vietnã ainda é pobre, com um PIB per capita, em valores correntes, de cerca de US$ 630. Medido pela paridade de poder de compra, fica perto de US$ 3 mil. Mas a redução da pobreza tem sido notável. Em 1990, 87% de seus habitantes viviam com menos de US$ 2 por dia. Em 2005, essa parcela estava reduzida a 49,1%. Na base, a mudança foi ainda maior. Naquele intervalo de 15 anos, o contingente de pessoas com menos de US$ 1 por dia diminuiu de 50,8% para 7,9%, segundo estimativa do Banco Mundial. Em termos absolutos, 26,4 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema (menos de US$ 1 por dia) e 15,3 milhões conseguiram passar para a faixa superior a US$ 2 diários. O comércio vietnamita é diversificado e seus principais mercados são as economias mais desenvolvidas. Em 2004, 19,9% de suas exportações foram para a União Européia, 19,6% para os Estados Unidos, 14,4% para o Japão, 9,3% para a China e 7,1% para a Austrália. O Vietnã importa principalmente de países da Ásia, mas suas fontes de abastecimento são bem divididas. Só 12,4% de suas importações, em 2004, vieram de seu maior fornecedor, a China, e 11,8% do segundo maior, o Japão. Outros fornecedores de peso, no mesmo ano, foram Taiwan (11,5%), Cingapura (11,4%) e Coréia do Sul (10,4%). Os vietnamitas conseguem, portanto, fixar prioridades segundo conveniências bem definidas. Compram muito da vizinhança, mas dirigem suas vendas principalmente aos mercados mais desenvolvidos. Têm conseguido sustentar um rápido crescimento graças a uma elevada taxa de poupança: o investimento, medido pela formação bruta de capital, equivaleu em 2005 a 36% do PIB, aproximadamente o dobro da taxa observada no Brasil nos últimos 10 anos. O Vietnã permanece como um dos países menos urbanizados do Leste da Ásia. No ano passado, apenas 26,4% dos vietnamitas viviam em cidades, mas sua população urbana cresce 3% ao ano e deverá passar de 22,2 milhões em 2005 para 45,2 milhões em 2030, segundo projeção do Banco Mundial. Ainda poderá, portanto, absorver um enorme contingente de mão de obra barata nas atividades industriais e de serviços - se continuar investindo na educação. Até aqui, o país se mostrou capaz de fixar um rumo e de mantê-lo por muitos anos.
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Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, novembro 09, 2006
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