Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 19, 2006

AUGUSTO NUNES JB Sete Dias

Bom de conversa, ruim de serviço

A "grande figura humana" é uma das mais interessantes versões do homem brasileiro. Tem modos gentis, sorriso manso, a placidez de um avô incapaz de repreender o neto intratável. E sofre de uma incurável aversão a atividades cansativas. É bom de conversa e ruim de serviço. Sobra-lhe exuberância na mesa do bar. Na mesa de trabalho, falta-lhe entusiasmo.

"É uma grande figura humana", diz-se do jornalista que melhora o pior botequim e piora a melhor redação. Ou do médico que garante o clima de festa ao plantão mais tedioso e impõe um clima de velório ao quarto do paciente já fora de perigo. Ou do político que discursa sobre todos os problemas sem jamais apontar qualquer solução consistente.

"É uma grande figura humana", dizem de Waldir Pires desde 1964, quando se tornou consultor-geral da República no governo João Goulart. Às vésperas da derrocada, oferecia aos inquietos informações muito animadoras sobre o "dispositivo militar" de Jango. Waldir foi para o exílio sem ter detonado sequer uma bomba de festa junina.

"É uma grande figura humana", recitaram em 1985 os amigos do ministro da Previdência Social que Tancredo Neves escolheu e José Sarney nomeou. Em 1986, assustado com o tamanho do buraco, tratou de eleger-se governador da Bahia. Mal completaria dois anos no Palácio de Ondina.

Exaurido pela agenda de chefe do Executivo, Waldir resolveu descansar no mundo da fantasia. Repassou a trabalheira ao vice Nilo Coelho e foi brincar de companheiro de chapa de Ulysses Guimarães, candidato a presidente pelo PMDB em 1989. O desempenho da dupla foi um fiasco.

Contemplados com menos de 5% dos votos, ambos se conformaram com projetos menos ambiciosos. Acabaram voltando à vida de deputado. Nos anos 90, Waldir tentaria eleger-se senador. Ultrajados pela deserção que beneficiara Nilo Coelho, os baianos se vingaram nas urnas.

Grandes figuras humanas, quando entregues ao serviço da nação, não fazem obras. Fazem amigos. Não deixam realizações tangíveis. Mas deixam boas lembranças nas memórias de quem desfrutou da agradável companhia. Filiado ao PT, Waldir, hoje com 80 anos, aproximou-se de Lula, que acaba de completar 63. A diferença de idade não impediu que logo se transformassem em amigos de infância.

Como o maior governante desde as caravelas não deixa um parceiro assim ao relento, Waldir ganhou o gabinete de ministro-chefe da Controladoria-Geral da União. Algum foguetório, pouco trabalho: um cargo sob medida para grandes figuras humanas. Lula tivera uma boa idéia.

Má idéia foi transferir o bom baiano, em março deste ano, para o endereço atual. Lula e Waldir imaginaram que um ministro da Defesa não tem nada a fazer além de fingir que manda nos militares. Isso, Waldir sabe fazer. Não sabe o resto. Lidar com aeroportos conflagrados, por exemplo. O apagão aéreo está aí, mas o ministro diz que tudo segue normal. Grande figura humana.


Cabôco Perguntadô

Colecionador de papelórios que falam muito e não dizem nada, o Cabôco emoldurou com capricho uma cópia da carta de demissão de Luiz Gushiken. O homem que nada esquece pergunta: faltou ao companheiro espaço ou coragem para tratar das coisas que efetivamente interessam? Três delas: a chuva de verbas publicitárias que inundou revistas de parentes, a farra dos fundos de pensão e a história das cartilhas do PT. O Cabôco aguarda uma segunda edição da carta. Revista e ampliada.


Um valentão de chanchada

A semana de folga em Paris não melhorou o humor de Marco Aurélio Garcia, presidente do PT e conselheiro de Lula. Indignado com a imprensa que não presta vassalagem ao governo federal, transformou a primeira entrevista concedida depois da volta numa seqüência de ofensas, provocações e desafios baratos aos jornalistas.

Como as estações do ano, isso passa. Garcia é um valentão de chanchada. Quem o conhece sabe que rosna, mas não morde. Até tem vontade. Mas faltam dentes.


Esquerdista é isso aí

Em 1979, vitoriosa a guerrilha sandinista, o comandante Daniel Ortega confiscou a mansão do bilionário Jaime Morales. Ali se instalou e ali continua. Quase 30 anos depois, a dupla separada pela casa foi reconciliada pela eleição. Deu certo. Ortega é o presidente eleito. E Morales, seu vice.

O triunfo de Ortega foi festejado pelos velhinhos da Irmandade dos Órfãos do Muro: a esquerda não pára de avançar. Morales deve estar achando o Brasil mais divertido que a Nicarágua.


Los hermanos en Carabobo

Na inauguração da ponte na fronteira com a Venezuela, o presidente Lula saudou "os homens e as mulheres da Bolívia". O tradutor foi rápido no gatilho: "Venezuela", corrigiu de primeira.

"Hace três anos...", caprichou Lula ainda na introdução da discurseira. Impressionada com a aplicação do visitante - já aprendeu a primeira palavra em espanhol - a platéia perdoou a troca de nacionalidade e ovacionou o orador. Em seguida, foram todos inaugurar a usina de Carabobo. Bom nome.



Yolhesman Crisbelles

O O troféu vai para o agora tricampeão Candido Mendes, que captou o real significado do diálogo telefônico entre Bush e Lula.

O telefonema de Bush a a Lula indica a rendição internacional ao êxito do nosso presidente.

Na conversa, segundo Lula, o colega pediu-lhe sugestões para ganhar a eleição. Ou o intérprete falhou ou a fórmula tropical não funciona nos EUA. Depois da rendição a Lula, Bush foi surrado nas urnas e teve de render-se ao Partido Democrata.

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