O GLOBO
A discussão sobre o desarmamento não poderia ser adiada, mas nem por isso chega em boa hora. A crise política — essencialmente uma crise de confiança no governo — prejudica o julgamento da opinião pública sobre o problema em si. Algo mais ou menos assim: claro, sou a favor, mas será que esse governo aí (não é falta de respeito do autor: as pessoas falam assim) não está querendo é desarmar os fazendeiros para ajudar as invasões de terras?
A dúvida é estapafúrdia. O desarmamento representa na verdade uma prioridade empurrada pela goela do governo abaixo: ele executa os movimentos que conduzem à consulta popular como quem cumpre uma obrigação, não como quem empunha uma bandeira. O ministro da Justiça merece ser declarado exceção, mas quem mais? Uns dois ou três. A falta de uma boa campanha oficial a respeito ajuda a falta de clareza
(sequer é possível, como nos bons tempos, chamar o Duda Mendonça: ele pode achar que essa história de desarmamento talvez acabe tornando menos sangrentas as brigas de galo — e ele certamente não usaria todo o reconhecido talento para tirar a graça de seu passatempo favorito).
A falta de adesão entusiasta de Brasília à consulta popular que vem aí ajuda distorções e mal-entendidos. O mais óbvio: muita gente está convencida de que o objetivo é desarmar o crime organizado. Claro, esse deve ser um esforço permanente de qualquer governo consciente de suas prioridades. Mas essa é uma missão das forças de repressão do Estado, que até hoje não ofereceu qualquer estratégia consistente a respeito. Não sejamos injustos: não é fácil.
O objetivo imediato do plebiscito é mais simples e direto: trata-se de impedir a presença freqüentemente fatal da arma de fogo nas mãos da população civil (com algumas exceções necessárias e conhecidas). O resultado da consulta popular não vai reduzir os arsenais de AK-47s nos redutos do tráfico de drogas. Esse é outro problema, gravíssimo, e para o qual não se conhece solução duradoura: no Rio, periodicamente a polícia ocupa favelas e complexos de favelas, obtém às vezes resultados meritórios —- mas não há caso conhecido de pacificação duradoura. Nem surgiu até agora algum gênio para dizer que não se deve fazer assim, porque assado é que dá certo.
Mas o plebiscito servirá para tirar a arma de nossas casas e das casas de nossos vizinhos. Para impedir que uma briga conjugal termine em morte; para não deixar que nossos filhos descubram o brinquedo novo, com conseqüências que estão todos os dias no jornal; e para impedir que divergências sobre questões de trânsito e de condomínio acabem em sangue. Como toda hora acontece. Só alguém de profunda má-fé tentará nos garantir que ter um revólver na mesa de cabeceira impedirá que uma quadrilha de assaltantes faça uma limpeza em nossa casa ou apartamento. É santa ingenuidade: eles estão mais bem armados, atiram melhor, não têm medo ou escrúpulos de apertar o gatilho.
Aquela senhora simpática que aparece na televisão defendendo a produção para uso doméstico da indústria brasileira de armas e munição não oferece resposta a esses argumentos. Claro: a resposta não existe.
Entrevista:O Estado inteligente
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