Erro ainda maior cometerá o governo se, a partir de agora - e sem os disfarces anteriormente utilizados -, assumir ostensivamente o esvaziamento das CPIs, atribuindo-lhes uma "falta de resultados concretos", que justificaria sua perda de importância política. Antes de mais nada, se as CPIs estão dando a impressão de patinar, não há como deixar de responsabilizar, perante a opinião pública, tanto a omissão quanto o boicote de muitos de seus integrantes governistas - embora também se encontre em oposicionistas alguns sinais de afrouxamento. Ora é uma senadora petista (Ideli Salvatti) concitando os colegas a se ausentarem, para impedir quórum - em especial quando se discutem inconvenientes quebras de sigilo -, ora é o próprio presidente da CPMI dos Correios, senador Delcídio Amaral, que deu a si mesmo uma folga de duas semanas - e 13 seções - para resolver seus problemas político-partidários regionais, no que quase tucanou e, depois de audiência presidencial, repetizou.
Há também que se observar - e aí o senador Delcidio Amaral tem razão, quando o aponta - que as CPIs já passaram da "fase do holofote" e agora estão no exame técnico do volumosíssimo material probatório documental. Neste momento, embora seja grande a expectativa do competente sub-relator financeiro da CPMI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), quanto ao depoimento do doleiro Dario Messer na quarta-feira - que poderá dar boas informações sobre percursos de dinheiros no exterior, em abastecimento a contas do PT -, muito mais importante do que os interrogatórios dos parlamentares, sempre concentrados nas câmeras de televisão, são os exames elaborados pela centena de técnicos, especialmente em ciências contábeis, assim como o trabalho das instituições internacionais que estão sendo contratadas para investigar contas suspeitas no exterior.
O mínimo a esperar é que, mesmo desejando "o fim da guerra", como expressou o aliviado e otimista ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, o governo Lula não desqualifique o trabalho das CPIs - nas quais os governistas têm apreciável peso -, pela "falta de resultados", pretendendo com isso apressar o fim das investigações para comandar uma "agenda positiva", visando, especialmente, a reeleição em 2006. Não que esta agenda não deva existir, que o governo não tenha o direito de tentar a recuperação política - ou até a realização, ora difícil, do sonho da reeleição. Mas a promessa tão recente, insistentemente alardeada pelo governo, de "apurar tudo e punir responsáveis", não pode, de repente, ser também enfiada tapete abaixo.
O caminho do governo, na verdade, só poderá ser o da dupla agenda, na qual encontre condições de negociação com as forças oposicionistas, tanto na valorização e apoio aos trabalhos das CPIs quanto no encaminhamento e votação de projetos de real importância para o País, que não podem ser postergados por entraves político-partidários. E é claro que para esse duplo esforço o primeiro a ser "convocado" é o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois, se achar que deve continuar passando a maior parte da semana - e agora com o ânimo redobrado pela vitória na Câmara - fazendo discursos reeleitorais pelo País afora, a expectativa que lhe resta, neste último trimestre e no próximo ano inteiro, é uma só: desastre político e administrativo.