Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 04, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO REINAÇÕES DE DELÚBIO

 A fábula da "mão invisível" de Delúbio Soares -não confundir com a reputada teoria do escocês Adam Smith- volta a ganhar força na retórica petista. É o que se depreende da reação da direção do partido ao que o ex-secretário-geral Silvio Pereira disse à Folha -que o "caixa dois" era de conhecimento da elite petista. É o que resulta também da defesa do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, cuja mulher sacou R$ 50 mil do "valerioduto".
De acordo com essa versão fantástica da história, tudo se teria passado como se Delúbio Soares, dotado apenas de seu engenho, houvesse arquitetado um multimilionário esquema de captação e distribuição de recursos irregulares a partidos da base aliada. Teria urdido tudo na surdina, sem ser visto por ninguém no nível, diga-se, da divisão das responsabilidades -sem que o governo e o PT, os maiores beneficiários na lógica dos pagamentos, soubessem.
Uma das integrantes da executiva do partido, a título de rebater Silvio Pereira, disse que ele "nem no PT está mais" e que, "se ele tivesse moral para falar do PT, não teria se desfiliado do partido". Supõe-se que Delúbio Soares, que confessou sua responsabilidade direta no esquema, mas continua nas hostes petistas, tenha, aos olhos da integrante, mais "moral" do que Pereira.
E o que dizer de um presidente da Câmara que envia a mulher ao banco para sacar R$ 50 mil e que afirma não saber de onde vinha o dinheiro? João Paulo Cunha, confrontado com o fato de que sua mulher visitou o Banco Rural, primeiro disse que ela fora resolver um problema com a fatura da TV a cabo. Já após a evidência do saque, diz que, no mesmo dia em que a mulher foi tratar da pendência com a TV, ela sacou o dinheiro. Por que não contou essa versão desde o início? "Eu não sabia que esse dinheiro que ela foi sacar fazia parte do objeto de investigação da CPI, eu estava certo de que era um dinheiro do PT."
Nesse mundo encantado, povoado por seres ingênuos, Delúbio Soares é o ente que catalisa todo o mal. O roteiro já é de eficácia duvidosa para uma narrativa infantil. Na política, é piada de péssimo gosto.

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