"Aldo Rebelo acaba de ser eleito. Os
mensalistas atiram-no para o alto.
Todos os deputados com quem falei
o consideram um perfeito idiota. Por
isso estão tão felizes. Por isso não
o deixam se espatifar no chão"
Quarta-feira. Congresso Nacional. É minha primeira e última vez em Brasília. Arrependo-me de ter vindo assim que ponho os pés na cidade. Por algum motivo, decidi acompanhar de perto a eleição para presidente da Câmara. Quando termina a apuração do primeiro turno, os parlamentares se reúnem nos gabinetes, nos corredores, na sala do cafezinho. Compram e vendem votos.
Geddel Vieira Lima acusa Renan Calheiros de se vender a Lula. Pergunto o que exatamente Lula deu a Calheiros. Geddel responde que seria leviano acusá-lo sem provas. Em seguida, relaciona os boatos que circulam no plenário, segundo os quais Calheiros teria recebido concessões de rádio, cargos nos ministérios e um bocado de dinheiro vivo.
ACM Neto diz que a oposição errou. Deveria ter pedido o impeachment de Lula logo depois do depoimento de Duda Mendonça, na CPI dos Correios. Afirmo que ainda dá tempo para derrubar o presidente. Ele responde que não dá mais.
Delcídio Amaral promete convocar à CPI todos os doleiros que operaram para o PT. Ele também acaba de tomar conhecimento de um relatório do TCU que indica um superfaturamento de 2 bilhões de reais em obras da Petrobras. Pergunto se ele vai deixar o PT. Ele responde que não sabe. Sua maior queixa contra o partido não é o superfaturamento na Petrobras, ou o dinheiro operado por doleiros. Sua maior queixa é o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, que o classificou como "infantil".
Uma assessora parlamentar me alerta que o doleiro Toninho da Barcelona, acusador do PT, recebeu uma pena praticamente igual à de Fernandinho Beira-Mar. Ela me alerta também que Toninho da Barcelona tem sido sistematicamente violentado na cadeia.
Denise Frossard diz que, vendo os parlamentares governistas, "sente saudade de seus bandidos". Ela se refere aos bandidos comuns, de seus tempos como juíza, no Rio de Janeiro.
José Eduardo Cardoso defende uma reforma política. Ele reclama, com toda a razão, que o Congresso Nacional tem nordestinos demais.
José Dirceu acompanha distraidamente a apuração do segundo turno. Diz que vai lecionar em Harvard. Diante da incredulidade geral, é obrigado a explicar: "Fui convidado pelo Mangabeira Unger". Dirceu diz também que pretende fazer uma longa viagem pelos Estados Unidos. E acrescenta orgulhoso: "Fui convidado pelos Republicanos". Depois do ano sabático, Dirceu planeja retomar o comando do PT. Aviso que o PT terá acabado daqui a um ano. Ele garante que não. Cita os altos e baixos da carreira política de Tancredo Neves, para demonstrar que o brasileiro tem memória curta. Dirceu está ruim da cabeça. Continua a negar seu fracasso.
Aldo Rebelo acaba de ser eleito. Os mensalistas atiram-no para o alto. Todos os deputados com quem falei hoje – foram mais de trinta – o consideram um perfeito idiota. Por isso estão tão felizes. Por isso não o deixam se espatifar no chão.