FOLHA DE S PAULO
A "União Européia (UE) terá que provar que não é um clube cristão". Com esse repto, o ministro do Exterior turco, Abdullah Gul, forçou a retirada do veto austríaco para o início das negociações de admissão da Turquia na UE. A candidatura turca foi posta na mesa há mais de 40 anos, pouco depois da formação da Comunidade Européia (CE). As negociações podem durar até dez anos. Para incorporar um país muçulmano de 70 milhões de habitantes, a UE deve reinterpretar a identidade da Europa.
Num gesto de natureza simbólica, os arquitetos da Europa do pós-Guerra reuniram-se em Roma, não em Paris ou em Bruxelas, para assinar o tratado da CE, em 1957. Eles estavam dizendo que o seu projeto era uma restauração, não uma invenção, e reivindicavam uma legitimidade de 20 séculos. A "nova Europa" surgia à sombra de um conceito de unidade com raízes no império Romano e na tradição cristã.
O sonho da restauração de Roma atormentou a Europa medieval e moderna, coagulando-se no império de Carlos Magno, no Sacro Império Germânico e na expansão imperial Habsburgo. Na Europa contemporânea, fragmentada em Estados, o sonho da unidade inspirou os projetos imperiais de Napoleão Bonaparte e Hitler. A Comunidade Européia nasceu, depois de duas guerras devastadoras, para conciliar os princípios antagônicos do Estado e do império. A unidade pelo consenso como alternativa à unidade pela força: eis a nova fórmula da restauração de Roma experimentada pelos líderes europeus do pós-Guerra.
Roma desabou sob o impacto das invasões bárbaras, mas o princípio imperial da expansão do cristianismo jamais foi suprimido. Os reis medievais eram sagrados pelos papas. As Cruzadas contra os infiéis, a Santa Inquisição e os decretos dos Reis Católicos de Espanha, de expulsão dos judeus e dos mouros, confirmaram a identidade européia pelo cancelamento da alteridade. No Novo Mundo, os conquistadores e colonos europeus marcharam sob as bandeiras do Antigo ou do Novo Testamento. Toda a história da Europa pode ser narrada como uma "limpeza étnica" multissecular, que conecta por um fio profundo as fogueiras inquisitoriais, os pogroms antijudaicos, os campos de extermínio nazistas e os massacres de muçulmanos da Bósnia. Essa narrativa está concentrada nos lemas e estandartes dos partidos de extrema direita, que pregam a expulsão dos imigrantes.
A identidade européia está fincada na imaginação popular. O apoio à admissão da Turquia gira em torno de 32% na Grã-Bretanha, 15% na Alemanha e 11% na França. Segundo Joschka Fischer, o ministro do Exterior alemão, os opositores da adesão turca "surfam na onda do racismo". A Turquia é uma ponte entre a Europa, a Ásia Central e o Oriente Médio. Ancara, a sua capital política, situa-se no Oriente Próximo. Istambul, a antiga Constantinopla, sua capital histórica, situa-se na extremidade da Europa. Abdullah Gul definiu a adesão turca à UE como a oportunidade para uma "aliança entre civilizações" no momento em que a "guerra ao terror" de Washington e o exército jihadista do terror realizam a profecia sinistra do "choque de civilizações".
A conquista de Constantinopla pelos turco-otomanos, em 1453, explodiu a ponte entre a Europa e o mundo muçulmano. Mais de meio milênio depois, os europeus têm a chance de reconstruir essa passagem
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