Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 06, 2005

CLÓVIS ROSSI O "mensalinho" deles

FSP
 BRUXELAS - Irritado com os políticos brasileiros? Tem todos os motivos para isso, mas, no desempenho de uma caridosa missão, gostaria de lhe oferecer algumas razões para consolo e outra para ainda mais irritação.
Começo pelas últimas: o Parlamento europeu, que abriga representantes de 25 países e de uma população de quase 400 milhões de pessoas, tem apenas 732 deputados. O Brasil, um único país e menos de 200 milhões de habitantes, tem 581 deputados e 81 senadores.
Agora, os motivos de consolo: o Parlamento europeu espalha-se por três cidades -Bruxelas, Luxemburgo e Estrasburgo (França). Só com o transporte de funcionários e material, o gasto é de 200 milhões/ano, ou cerca de R$ 560 milhões.
Mais: o conjunto de edificações só em Bruxelas é tão grandioso e amplo que transforma aquele prédio de Brasília em uma choupana, se Oscar Niemeyer me perdoar.
O de Estrasburgo tampouco é um exemplo de modéstia.
Ao circular pela cantina, como chamam aqui o bandejão, o tamanho me fez imaginar o quanto não teria que pagar um Buani europeu pela concessão. "Mensalinho" aqui não compraria nem uma mesa.
Por falar nisso, não fique pensando que trambique é coisa nossa e só nossa. Um dos raros casos de derrubada da imunidade parlamentar foi no caso de um eurodeputado cipriota acusado de contrabando de antigüidades, ao que se somou a denúncia de que teria trocado cadáveres na morgue para ocultar um crime. Convenhamos: "mensalinho" é mais barato, não?
Por fim, um breve desabafo: cada vez que entro num desses templos da burocracia regional ou internacional, como o FMI ou o Parlamento europeu, fico me lembrando dos sermões do mundo rico aos países em desenvolvimento: contenham o gasto público, contenham o gasto público. É, como observou minha colega da Malásia Hardev Kaur: faça o que eu digo, mas não faça o que faço.

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