Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 04, 2005

CLÓVIS ROSSI De fracassos e triunfos

FSP
BRUXELAS - Começo por onde terminou ontem esse excelente jornalista chamado Igor Gielow, que lamentava "a retórica triunfalista" que enxerga na diplomacia brasileira.
Toca num ponto básico para a avaliação da política externa do governo Lula: excesso de triunfalismo. O chanceler Celso Amorim, profissional tão competente que teria sido ministro mesmo que José Serra tivesse ganho a eleição, deixou-se embalar pelo culto à personalidade (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), razão pelo qual chegou a acreditar que o mundo se curvaria a um novo guia genial dos povos e que, por extensão, a geografia comercial do planeta seria dramaticamente alterada.
Não foi bem assim. O fascínio de Lula entre outros governantes esteve dado originalmente pela perspectiva de realizar o milagre de, ao mesmo tempo, cuidar rigorosamente das contas públicas e resolver os problemas sociais.
Aos poucos, foi-se vendo que só a primeira parte da lenda sobreviveu. Mas bons contadores fariam a mesma coisa.
Agora, se o triunfalismo não se justifica, tampouco se justifica a "fracassomania" em torno da política externa. Sou testemunha ocular de ao menos um êxito: a Comissão Européia não teria convidado um grupo de 16 jornalistas do G20 para explicar sua política comercial se o G20 não tivesse uma importância que lhe foi inicialmente negada.
O grupo, como se sabe, foi criado por iniciativa do Brasil e da Índia para pressionar pela liberalização agrícola no mundo rico.
Mudou a geografia comercial do planeta? Não. Mas tornou-se ator relevante na negociação, como reconheceu ontem aos ditos jornalistas o comissário europeu para Comércio, Peter Mandelson.
Se daí resultarão ou não acordos benéficos para o Brasil, é outra história, que, em caso negativo, nem seria fracasso, porque, como dizem os norte-americanos, "é preciso dois para dançar o tango".

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