Antes que alguém confundisse a demonstração de respeito à Igreja com uma surpreendente conversão ao catolicismo, Rebelo mostrou que continua fiel ao Partido Comunista do Brasil - e a serviço da revolução. Pendurou na parede um retrato de Simon Bolivar.
O que tem a ver com a geléia geral brasileira o mítico general que, no começo do século 19, ajudou a libertar do domínio espanhol nações vizinhas? Aparentemente, nada. Para quem sabe ler retratos, tudo a ver. Rebelo sabe que o coronel Hugo Chávez, presidente da Venezuela, é um declarado adorador de Bolivar - tanto que mudou a Constituição para fazer da Venezuela uma "República Bolivariana".
Quem enfeita o gabinete, portanto, não é "El Libertador", nascido em Caracas em 1783. É o palavroso e amalucado Chávez, que se julga uma reencarnação de Simon Bolivar. O olimpo do PCdoB, avisa o gesto de Rebelo, acaba de incorporar uma nova divindade.
Esse santuário comprova que venerar canastrões é um dos defeitos de fabricação da seita a que Rebelo pertence. Na adolescência, o alagoano de Viçosa rezou no altar de Mao Tsé-tung, o líder da revolução chinesa que estenderia seu reinado até a morte. O ídolo submetia a China a projetos tão grandiosos quanto absurdos, Rebelo aplaudia. O poeta medíocre assassinava versos, Rebelo se emocionava mesmo com os especialmente cretinos. O Mestre ordenava matanças colossais, o pupilo dizia que eram histórias inventadas pela imprensa burguesa.
Órfão do Grande Timoneiro, o PCdoB adotou como guia o ditador da Albânia, Enver Hohxa. Também por falta de opções - esse grotão da Europa foi o último reduto comunista do continente -, um Aldo Rebelo já adulto rendeu-se ao culto da figura tão estranha quanto o nome.
Hohxa decidiu fechar as fronteiras da Albânia ao resto do mundo, para impedir que a decadência capitalista infeccionasse o bucólico país. Rebelo gostou da idéia. Até as cabras que proliferam nas montanhas albanesas ruminaram a suspeita de que o chefe endoidara. Hohxa caiu, o culto acabou, abriu-se a vaga agora ocupada pelo santo venezuelano.
A substituição de João Paulo II e Severino por Bolivar (e seu bisneto honorário) foi a terceira grande idéia do deputado. A primeira gerou um projeto de lei que proíbe a contaminação da última flor do Lácio por expressões em inglês. Algumas poderiam ser aportuguesadas. As demais, sumariamente banidas.
Por que shopping center em vez de centro de compras?, exemplifica Rebelo. O imperialismo americano está corrompendo até a língua portuguesa, argumenta. (Mas só nas conversas off the record). A segunda grande idéia tem parentesco com a outra. Rebelo quer oficializar o Dia do Saci. No fim de outubro, crianças brasileiras começaram a fantasiar-se de bruxas ou fantasmas, como a garotada americana no Halloween. Ou "ralouin", corrige o texto do projeto redigido pelo atual presidente da Câmara.
O programa do PCdoB abriga idéias bem mais radicais para alcançar o objetivo glorioso: a implantação do comunismo no Brasil. O plano estratégico se desdobra em três etapas. Ainda estamos na fase inicial, reservada à "transição preliminar do capitalismo para o socialismo". Os burgueses não precisam perder o sono. O desfecho da revolução terá de esperar algum tempo. No momento, a guerra só envolve bruxinhas americanas e nosso bravo Saci-Pererê.