Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 09, 2005

Villas Boas:Lula fez péssimo negócio com o PMDB

no mínimo

08.07.2005 |  Só o descontrole emocional dos nervos tensos, a cabeça girando no rodopio da fossa, a alma à beira do desespero, além da cada vez mais evidente inexperiência política e o desligamento da maçante rotina administrativa, explicam, sem o perdão da justificativa, o erro em dose dupla do presidente Lula de negociar os votos dos parlamentares do PMDB na barganha por três ministérios, na contramão da direção do partido e batendo de frente com o veto dos sete governadores da legenda.

Na avaliação sumária da transação, o governo não ganhou um votinho a mais no tropeço tático da permuta dos acertos no varejo pelo lance ousado da cooptação por atacado do rebanho disperso da sigla que nunca primou pela coerência e unidade. Nem nos tempos da presidência do deputado Ulisses Guimarães, com a candidatura à sucessão do presidente José Sarney abandonada às traças, com humilhante punhado de votos.

Lá é verdade que o governo não pode esperar muito depois do desperdício de dois anos e meio de omissão e paralisia e com a ronda de escândalos invadindo o porão do Palácio do Planalto.

Mas, não era por aí o atalho para desviar-se da estrada obstruída e abrir passagem para o desespero. Lula só conseguiu demonstrar a sua dificuldade em obedecer às regras do jogo, ampliar a crise, exacerbar as suspeitas que desbotam a estrela vermelha do PT – desqualificado para a vala comum de um partido enrolado em denúncias que salpicam na sua direção, espalha-se pela máquina administrativa e suja os gadanhos no cofre da Viúva.

Francamente, era melhor não fazer nada do que tentar mudar o foco da crise para a tardia urgência em remendar os buracos na base parlamentar e mexer no monstrengo ministerial, perturbando a soneca dos 36 ministros e secretários recolhidos ao cortiço.

Enquanto não acabar o show das CPIs que se multiplicam com o pipocar de novas denúncias, o governo não escapará do encurralamento no canto da suspeição. Na companhia desconfortável dos companheiros do PT, condenado a purgar a sua empáfia ao repetir o calvário da finada UDN: partido que renega os seus princípios, condena-se ao desprezo dos seus eleitores. Se o PT refuga a comparação com a UDN bacharelesca, centrista e que se perdeu ao apoiar a ditadura militar de 64, mire-se no espelho rachado do PTB.

As reformas dos compromissos de quatro campanhas foram para o vinagre. Além dos filhotes dos remendos na Previdência Social e outros retoques, nada mais será aprovado no lento ocaso do sonho que virou pesadelo. Para iniciar o mutirão do evidente interesse nacional de preservar as instituições ameaçadas é preciso enxergar a luz no fim do túnel das denúncias. Os indícios, os depoimentos com suas inevitáveis falhas e contradições sinalizam a conveniência da cautela até que as investigações amadureçam e, pelo menos, indiquem as prováveis conclusões.

Correria dos que confundem agitação com a seriedade do exercício do mandato carimbado pela esperança de milhões é o velho truque de jogar areia nos olhos dos trouxas. Expõe o governo e os novos convidados ao risco de constrangimentos com os respingos da chuvarada de começo de inverno.

Uma laúza a mais ou a menos no PMDB não tem a menor importância. Rotina. Os novos ministros e outros mais que sejam escolhidos não libertam o governo manietado pelas suspeitas e denúncias.

Com o congelamento do ex-todo-poderoso deputado José Dirceu e o clima de intrigas, fuxicos e boatos que baixou no Planalto, o presidente dá mostras de que anda carente de conselheiros confiáveis. Os sinais de depressão e de impaciência que chegam ao público passam a sensação de um governo perdido nas suas perplexidades.

A viagem de piloto de provas do presidente à Escócia, para participar como convidado especial da reunião do G8, para uma permanência de horas e o retorno em vôo noturno para a chegada esta manhã a Brasília, francamente, é um despropósito, agravado pelo imprevisto dos insanos atentados terroristas que castigam Londres.

Tanta pressa para quê? Uma pausa para esfriar a cuca, amadurecer decisões, rever planos e prazos, analisar erros e possíveis correções seria mais útil do que o corre-corre para nada. Desse jeito, o Aerolula durará pouco...

No meio do vendaval e antes que a poeira assente, não se distinguem os vultos na confusão.

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