o globo
O IPCA divulgado ontem confirma que o segundo trimestre foi bom para a economia. Inflação zero em junho encerra mais uma semana com indicadores positivos. O Banco Central estava esperando uma inflação de 0,20% e deu deflação ligeira de 0,02%. O IGP-DI registrou deflação em maio e junho, o que terá reflexos positivos na inflação do ano que vem. Os IGPs é que reajustam as tarifas e têm sido o grande vilão dos preços. O IGP-M pode ser de 4% este ano. Na atividade econômica, há sinais positivos também.
Os dados divulgados nos últimos dias mostram que o desemprego caiu em maio, a produção industrial cresceu em maio mais do que se esperava e a inflação ficou em zero ou abaixo de zero em todos os índices do mês de junho. Ponto para o Banco Central. Temia-se uma queda forte no nível de atividade como conseqüência de nove altas de juros. Mas houve uma inflexão do movimento inflacionário preservando-se o ritmo de crescimento. Confirmando isso, o BNDES teve um aumento de 225% de consultas em junho e 20% de aumento de desembolso. É bem verdade que só conseguiu até agora liberar um terço do orçamento.
A semana inteira foi assim, como se economia e política obedecessem a ordens diferentes e pertencessem a dois mundos. Toda CPI tem momentos de conflito entre as bancadas, exibicionismo crônico e depoimentos intermináveis. Mas esta tem produzido um nível assustador de polarização que pode levar a uma crise institucional.
Enquanto isso, a economia vai no seu passo. Esta semana, houve alguns momentos de nervosismo visível nos indicadores financeiros, mas foram apenas pequenos tremores para depois tudo voltar ao normal.
A inflação em 12 meses até maio estava em 8,05% e foi agora para 7,27%. Em julho, a previsão do professor Luiz Roberto Cunha é de que o índice fique em 0,20%. Se for isso, o IPCA dos últimos 12 meses cairá para 6,51%. O Boletim Focus vem semanalmente revendo para baixo os índices previstos. A última previsão divulgada na segunda-feira era de um IPCA de 0,08% em junho e de 5,94% para o ano. Por questões estatísticas, substituindo-se o 0,08% por -0,02% a previsão para o fim do ano já teria que cair para 5,84%.
Sobre julho, a previsão do mercado é de 0,46% mas, se Luiz Roberto estiver certo e ela for de 0,20%, o fim do ano iria para 5,58%. No início de junho, a previsão no Focus era de 6,33%.
— O melhor neste momento é olhar pra frente, pro IPCA de julho que virá muito mais baixo que o do ano passado, que foi de 0,91%. Julho sempre costuma ser um mês ruim, com reajuste de energia elétrica, telefonia, alimentação e vestuário, por causa do frio. Mas este ano o reajuste foi negativo na energia, o da telefonia foi menor que se esperava, os alimentos in natura vão bem com o clima excepcionalmente positivo e as lojas começaram antes suas liquidações, já em julho — analisa Luiz Roberto.
No último relatório de inflação do BC, o Banco Central contava com uma inflação acumulada em 12 meses em junho de 7,50%, mas, como deu 7,27%, podemos dizer que "sobraram" 0,23 pontos no modelo do BC. Ou seja, fazendo o que o economista Luis Otávio Leal chamou de "conta burra", a previsão do Banco deve cair de 5,8 para 5,6. Bem, mas esses números não consideram um possível aumento de petróleo. Luis Otávio fez, então, uma conta considerando 10% de aumento nas refinarias até o fim do ano. Isso teria um impacto de 0,30 pontos percentuais no IPCA e de 0,45 no IGP-M.
— Nossa previsão de IGP-M está em 4%, ou seja, mesmo com a gasolina, ficaria em 4,5% e este seria o impacto nos preços administrados no ano que vem. O IGP-M de 2004 foi de 12,41%. Está caindo este ano para algo como 4% ou 4,5%. Isso muda muito a história futura. Do IPCA, 29% são preços administrados, a maioria reajustada pelo IGP-M. Além deles, remédios e cursos também costumam ser reajustados pelo IGP-M. Ou seja, 37% do IPCA do ano seguinte são de preços corrigidos por esse índice — diz Luis Otávio Leal.
Ajuda ainda mais a economia a liquidez internacional que fez com que, mesmo no dia seguinte a uma grande tragédia, como a de Londres 7/7, a Bolsa de Londres tenha subido. Ou seja, a crise política pode não afetar os indicadores financeiros de curto prazo.
Além da economia, houve outra boa notícia. Mesmo no meio deste terremoto político e das proteções, retirada de urgência e de ter sido posto no fim da lista de votações na semana, foi votado e aprovado o relatório do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) do Projeto de Lei das Florestas. O deputado melhorou o projeto em alguns pontos. Tudo foi feito para introduzir a idéia de dar valor econômico à floresta em pé.
A ministra Marina Silva sonha com a possibilidade de aprovar o projeto no Senado por acordo de liderança e na própria quinta-feira já estava em articulação com senadores da oposição e do governo para ver se é possível aprovar, sem qualquer alteração, o projeto como foi aprovado na Câmara.
Formam-se, assim, algumas poucas ilhas de racionalidade no mar de loucura que virou a política brasileira. Uma dessas ilhas é a discussão do déficit zero, que, apesar de ter enfrentado divergências, pôs muita gente para pensar em novas formas de fazer o uso mais racional dos recursos públicos.
Juntei aqui, caro leitor, algumas raras boas notícias para dar um pequeno alívio ao pesado noticiário da crise política. Não dá para esquecê-la, até porque, em algum momento, ela afetará, sim, a economia.
Entrevista:O Estado inteligente
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