Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 23, 2005

VEJA Os personagens e os bastidores da CPI

Tem até um lado humano!


Daniela Pinheiro

Eles brigam, se exibem, falam bobagens, fazem declarações intermináveis e freqüentemente exasperam o público. Às vezes, surpreendentemente, surgem perguntas coerentes e comentários apropriados. Os integrantes da CPI dos Correios sabem que ocupam o centro das atenções nacionais, mas, nas longas horas de audiências, não escondem o que são. Nos bastidores, as coisas ficam melhores ainda.

Eugenio Novaes
FERA DO ORKUT
O estilo despojado de Heloísa Helena faz história, mas ela tem suas vaidadezinhas: "Há dezoito comunidades sobre mim no Orkut. Só elogiando"


• Docemente embalada pela fama de justiceira das Alagoas, a senadora Heloísa Helena (PSOL) não liga para as críticas de colegas a seu estilo veemente ("Grito mesmo. Só assim para ser respeitada") e a seu guarda-roupa ("Quem se importa com isso é gente besta. Tira foto de mim bem cafona, por favor"). Vaidade explícita, só quanto ao sucesso de público. Em dia de audiência, recebe mais de 1.000 e-mails. "Há dezoito comunidades sobre mim no Orkut. Só elogiando", diz. Dos ex-colegas, hoje desafetos, petistas, a companheira de comissão Ideli Salvatti é quem mais sente o peso da helênica fúria: "Aquilo tomou um porre de uísque com o Delúbio na festa que eles fizeram no hotel Blue Tree para comemorar minha expulsão do PT e depois vem querer dar uma de amiga. Odeio gente falsa, cínica". E a pá de cal: "Ideli não olhava para o Delúbio no depoimento porque eles são amigos íntimos. Ele pagou a campanha dela".

• Como nada melhor do que uma senadora para falar mal de outra, Ideli rebate: "Ela não gosta de mim porque a apelidei de senatriz na votação da Previdência. Acho que tudo o que faz é milimetricamente estudado. Das roupinhas simplesinhas a postergar seus discursos para aparecer ao vivo na hora dos jornais noturnos e até levar uma sobrinha para ficar desenhando no plenário". O estilo petista-despojado não faz mais sua cabeça. Depois de uma cirurgia de redução de estômago, ela emagreceu 40 quilos e renovou o guarda-roupa. "Mudei minha vida toda. Estou vaidosa", diz com o entusiasmo de iniciantes ainda sujeitas a escorregões (tipo combinar a cor da sombra com a da roupa). No último mês, Ideli perdeu a mãe e terminou um namoro: "Preciso de um banho de sal grosso. Não agüento mais".

 

Luiz Antonio
A SENADORA E A ASSESSORA
Ideli Salvatti só tem missão impossível: defender o PT, disputar com Heloísa Helena, cuidar da nova e vaidosa imagem e ainda por cima zelar por Camilla, a jovem assessora que deixa a CPI babando

• Tampouco é fácil defender a paz de espírito de sua jovem assessora, Camilla Amaral, 25 anos, 1,68 metro, 53 quilos, roupas justinhas, justinhas. "Eu digo para eles: sai para lá, gavião", conta Ideli, descrevendo a patética agitação que cada entrada de Camilla na sala da comissão provoca. "Ao Ney Suassuna, vou logo avisando: 'Se olha no espelho, Ney! Ela é muita areia para seu caminhãozinho'." Tímida, indiferente aos senhores babões que a cercam, Camilla tem outras preocupações na loura cabecinha: "A Danuza Leão veio aqui e escreveu que as assessoras do PT se vestem mal, são feias. Poxa, eu compro terninho, divido em três vezes, fico toda arrumada... É injustiça".

 

Celso Junior/AE
O GALÃ DO PANTANAL
Comparado a Antonio Fagundes, Delcidio Amaral recebe 300 e-mails – "até de rapazes gays que o acham interessante"

• Na ala masculina, fazem sucesso o senador Delcidio Amaral (petista, mas nem parece) e o deputado José Eduardo Cardozo (petista, mas não disposto a se arruinar defendendo o indefensável). Jeitão sereno, cabeleira grisalha revolta, o sul-mato-grossense Delcidio ganhou de admiradoras a alcunha "Antonio Fagundes do Pantanal". Média diária de e-mails: 300. "Até de rapazes gays que o acham muito bonito e interessante", entrega um assessor. Já as investidas diretas sobre Cardozo têm sempre como mote sua semelhança com Tony Ramos. "A mulherada está pegando pesado", brinca o deputado.

 

Eugenio Novaes
GRAMPINHO, O JOVEM
Telegênico e articulado, ACM Neto também aprende rápido: baixou o tom depois de estudo sobre o comportamento da turma

• Mas telegênico mesmo é o deputado ACM Neto, 25 anos, uma aliança Cartier enorme para não deixar dúvidas sobre o estado civil e imensa bagagem familiar. Na conta das virtudes incluem-se a articulação verbal, o poder de concentração e a dedicação. "Sou caxias mesmo. Estudo muito porque sei que sou jovem e tenho muito o que aprender", diz. E prova: depois que recebeu um estudo da TV Senado sobre o comportamento de cada parlamentar, percebeu que precisava controlar o tom de voz e a fúria das investidas. "Ficou melhor assim", acredita. Sobre outra herança, o apelido "Grampinho", em razão do caso notório envolvendo o avô Antonio Carlos Magalhães, é o próprio quem responde, no estilo habitual. "Isso de Grampinho é coisa de quem tem dor-de-corno. Ele é o melhor deputado da atualidade", derrete-se o orgulhoso vovô.

• Outro apelido interno: "Taci" (de "Tá se achando..."). O contemplado é o pefelista gaúcho Onyx Lorenzoni. Polpudo implante de cabelo, cuia de chimarrão sempre à mão, tom de voz duas oitavas acima do resto da humanidade, tudo o que ele diz começa com o pronome pessoal. "Eu sou muito rápido", já desferiu em plena sessão. "Eu fui o primeiro deputado em primeiro mandato a figurar na lista dos 100 melhores parlamentares", costuma lembrar aos interlocutores. Ou, para variar: "Aqui tem os que fazem e os que deixam fazer. Eu faço". Curiosidade onomástica: nascido numa família de veterinários, recebeu seu nome em homenagem à pedra-símbolo da categoria, o ônix.

 

Luiz Antonio
Joedson Alves/AE
EGOS EM DESFILE
Onyx é da turma do tudo eu; Christina, superada pela realidade, fez graça: "Recebia, sim, deputado; todo mundo recebia"

• Bem-criada, de família rica, bonitona – como Maria Christina Mendes Caldeira acabou se casando com o deputado Valdemar Costa Neto, líder do PL na Câmara? "Nem eu sei explicar o que aconteceu", diz ela. Christina prometia horrores sobre Costa Neto, mas foi superada pelos acontecimentos: a realidade é mais assustadora do que a sede de vingança da ex. De seu depoimento à Comissão de Ética, sobraram algumas das frases mais hilárias da crise, como "Recebia, sim, deputado, todo mundo recebia" – sobre malas com ou sem recheio – ou a impagável "Eu não sabia que era proibido comprar partido".

• Chovem denúncias de todos os cantos do país, claro. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) coleciona algumas das mais originais. Uma, enviada recentemente por uma garota de programa, começava assim: "Prezado senador, fui convidada para uma orgia com o presidente de uma empresa..." A autora relatava um aparente esquema de venda de sentenças judiciais no Rio Grande do Sul. "Nesse caso, o melhor é dar uma resposta bem curtinha, para não me comprometer", declara Dias. A denúncia mencionada pode não ter provas, mas a responsável deixou bem avisado: "Eles acham que prostitutas são surdas, mas não somos!".

 

Joedson Alves/AE
Eugenio Novaes
OS MAIS MAIS
Dias recebe as denúncias mais originais e Heráclito só pensa naquilo – na dieta – e vive pedindo pausa para o lanche

• O mais agressivo é o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). "Eu chuto na canela para ver se desestabilizo o cara", jacta-se. O mais folclórico: o senador acreano Sibá – apelido de Sebastião –, suplente da ministra Marina Silva. "Cobra vive de comer sapo e político, de fotinha no jornal. Quero aparecer como alguém com conteúdo", informa. O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), é o mais letrado. Citou John Lennon e Cícero na semana passada. "Se quiser, eu declamo agora Juca Pirama, do Gonçalves Dias. Demora uma hora, você tem tempo?", diz, num momento de humor arrebatado. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) ocupa uma posição bizarra: é o mais preocupado com a dieta. Ele está de regime e vive propondo pausas para o lanche. "Peço marmita para comer no gabinete. Aí a gente tem de dar uma parada, porque se não a comida fica lá, mofando", explica. Conteúdo da marmita de dieta: arroz, carne-seca e farofa.

NÃO PARECE, MAS É
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