Parlamentares e jornalistas, atirando em todas as direções, não apenas confundem o público, mas desviam as investigações do que realmente interessa: a identificação dos mecanismos e dos participantes dos esquemas de venda de facilidades e superfaturamento no âmbito do governo, para engordar o caixa 2 dos partidos que ocupam cargos estratégicos na administração direta e indireta; e a apuração plena da denúncia de compra de deputados para o Planalto aprovar no Congresso o que lhe convier.
Um caso de malversação dos esforços da CPI é a iniciativa do deputado tucano Carlos Sampaio de investigar suposto pagamento de mesadas a deputados por parte de firmas que efetuam serviços postais sob o regime de franquia. Os franqueados que recebem dos Correios uma comissão sobre o faturamento repassado, proporcional ao movimento das agências. A sua receita total chega a R$ 2 bilhões por ano
. Não surpreende que a distribuição das concessões tenha envolvido transações escusas entre políticos, o poder concedente e os concessionários – e decerto existe aí um abundante manancial de maracutaias a serem esclarecidas. Ocorre que a mobilização da CPI para esse fim é um despropósito.
Por duas razões elementares: nenhuma franquia foi concedida depois de 1996 e as concessões valem até 2007. Em vez de a comissão se pôr a fazer o "estudo minucioso" sobre cada uma das 1.540 franquias em operação de que fala com entusiasmo o deputado ACM Neto, do PFL, por que não incumbir disso o Ministério Público e a Polícia Federal?
Além disso, no noticiário da imprensa a questão não é tratada como o desperdício que é do tempo e das energias da CPI, mas como uma nova e fecunda área de inquirições, capazes de lançar luz sobre os problemas que justificaram a abertura do inquérito parlamentar
Não se pode culpar os leitores, incluindo os deste jornal, se, em meio a essa barafunda, tomaram o periférico pelo essencial – que continua sendo puxar até o fim o fio da meada registrado no vídeo em que o funcionário dos Correios Maurício Marinho aparece embolsando um pacotinho de dinheiro. Da mesma categoria de denúncias que provocam barulho desproporcional à sua substância faz parte o levantamento do líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, tratado como uma verdadeira bomba política no Jornal Nacional da quinta-feira.
Cruzando os nomes constantes do registro de visitantes do edifício de Brasília onde funciona a agência do Banco Rural usado por Marcos Valério para os seus saques opulentos – aparentemente para pagar o mensalão – com as datas dessas retiradas, Maia verificou que 9 petistas (ou familiares, ou assessores) estiveram no local em quase todos aqueles dias.
E daí? Além do fato de que existe no prédio muito mais do que uma agência bancária suspeita e de que podem ser perfeitamente inocentes, como ficou demonstrado na maioria dos casos, os motivos que levaram as pessoas a ir ao estabelecimento, ignorou-se um dado crucial. Se o mensalão existiu, não era para pagar deputados do PT. Era para pagar deputados de outros partidos da base parlamentar do governo, por iniciativa do PT. A desorientação dos políticos se manifesta por outros meios também.
Tendo um deputado do PT "denunciado" que a empresa Skymaster, envolvida nas investigações sobre os Correios, contribuiu para a campanha do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, ele não se contentou em provar que a doação era legal, desmoralizando o acusador. Investiu furiosamente, da tribuna, contra o presidente Lula. Com a incontinência verbal que é a sua deplorável característica, o senador, como que se dirigindo ao chefe do governo, disparou: "Na melhor das hipóteses, senhor Lula, o senhor é um idiota; na pior, o senhor é corrupto."
Perdeu uma oportunidade de ouro para ficar calado. Ele, ou quem quer que seja, não pode se calar se tiver uma acusação substantiva a fazer ao presidente. Já o recurso a adjetivos e grosserias apenas escancara a falta de rumos da oposição diante da crise
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