Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 06, 2005

REALIZAR PREJUÍZOS editorial da folha

 Com o retardo que tem caracterizado as reações do governo federal e do PT às denúncias de corrupção, eis que, finalmente, o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, e o tesoureiro Delúbio Soares pediram licença de seus cargos.
As decisões, tomadas quando se avolumam os indícios de que a agremiação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteja envolvida em operações suspeitas, são acertadas, mas insuficientes para que o partido e o governo readquiram um pouco que seja da credibilidade perdida.
Diante da gravidade da situação, o PT e o Planalto estão devendo à sociedade medidas mais drásticas, que sinalizem, sem tergiversações, a vontade de esclarecer os fatos e punir os eventuais culpados. Como sugeriram parlamentares da ala esquerda do petismo, em nota divulgada ontem, o quadro parece exigir um "choque ético-político", com a mudança da direção nacional do partido e o afastamento de ministros suspeitos de irregularidades -como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o titular da pasta da Previdência, Romero Jucá.
Não é hora de gratidões e movimentos acomodatícios, como os que se fizeram na inútil tentativa de preservar o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. A dimensão da crise exige gestos inequívocos e sacrifícios que, em outros cenários, o governo talvez pudesse evitar, assumindo o desgaste decorrente de suas decisões. Nas atuais circunstâncias, porém, não há outra alternativa senão realizar os prejuízos. É do interesse do próprio presidente emitir sinais de autoridade, fazendo o que estiver ao seu alcance para descomprimir o ambiente e evitar que as condições de governabilidade se deteriorem ainda mais.
Obviamente, as investigações precisam prosseguir -e, ao que tudo indica, novas revelações virão a público. Será inevitável identificar os responsáveis pelos desvios e submetê-los ao rigor da lei. Mas, do ponto de vista político, o pouco que se pode esperar do governo e do PT é a renovação da cúpula partidária e a conclusão da arrastada reforma ministerial.

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