o globo
A Argentina está com um risco-país de 450 pontos. O Brasil está com 400. Isso prova que o crime compensa? Não, apenas mostra que a excessiva liquidez do mundo atual garante que qualquer país se financie. Portanto, o fato de os indicadores brasileiros não terem refletido a crise não deve tranqüilizar ninguém. Os fundamentos, de fato, melhoraram, mas não estamos blindados.
De qualquer maneira, que é esquisito é; uma Argentina assim tão próxima do Brasil. O risco-Brasil está 100 pontos acima da média dos países emergentes e a Argentina está pagando 150 pontos mais que essa média dos emergentes. Nada mais barato para um país que deu o maior calote da dívida recente e se vangloriou disso. O economista Fabio Akira, do JPMorgan, acha que o indicador precisa ser mais bem entendido:
— É por isso que eu não gosto de que chamem o Embi de risco-país. Nós não medimos risco, mas, sim, a negociação dos títulos. A medida da Argentina caiu dramaticamente no mês passado também por um motivo técnico. Rebalanceamos o Embi e retiramos todos os papéis da Argentina de antes da renegociação; os que estão sendo negociados são reemissões de títulos já com as novas regras pós-negociação com os credores — disse.
É uma boa explicação técnica, que explica a queda de 6.000 pontos para 450 pontos do risco-Argentina medido por esse indicador que é calculado pelo JPMorgan. Mas o fato é que, neste momento exato, há muito credor da Argentina amargando forte perda — ou total perda — dos seus ativos por acreditar em seu país. Como é possível que o mercado tenha voltado a acreditar?
— Que risco existe de a Argentina voltar a dar um calote no curto prazo de um papel que já foi emitido após um calote? Estes títulos foram a limpeza após a moratória — responde Fabio Akira.
Mas a explicação para a falta de memória do mercado talvez esteja no fenômeno apontado ontem pelo economista Ilan Goldfajn em artigo neste jornal. "A liquidez internacional, em particular, tem tido papel relevante em minimizar o impacto de crises políticas domésticas", escreveu Ilan. Deve ser por isso que o Equador teve um colapso institucional e o risco subiu para apenas 800 pontos. Na nossa transição política em 2002 nem havia uma crise, apenas incerteza, e o risco foi a 2.400.
Armando Castelar, do Ipea, pondera que há, de fato, uma outra explicação para o que acontece no Brasil: há evidente melhora em todos os nossos indicadores econômicos.
Fabio Akira concorda:
— Um país que tem, como o Brasil tem hoje, 2% do PIB de superávit de conta corrente, tem que sofrer menos os efeitos de uma crise política.
Mas, quando se tem que verificar o impacto da crise política na economia, há duas formas de olhar: uma é para os indicadores financeiros, a outra é para o ritmo da economia real. Ontem o mercado ficou mais nervoso, mas esta não tem sido a regra. Já sobre a economia real, o diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, diz que ela não está freando:
— No primeiro trimestre, registrou desaceleração. Bens de capital, no ano passado, cresceu 20%; neste, 3,3%. Bens duráveis estava crescendo a 22% e cresceu, no primeiro trimestre de 2005, 6,6%. Mas este movimento é do passado. Há indicadores coincidentes como volume de aço vendido, energia, automóveis, papel ondulado, que divulgam dados do próprio mês e que mostram que vamos ter um segundo trimestre melhor do que se esperava. Amanhã será divulgada a produção industrial de maio e o dado pode ser positivo em 6,3% na comparação mês contra mesmo mês do ano anterior — afirmou Paulo Levy.
A crise política não afetou os preços dos ativos financeiros e pode não ter afetado ainda o ritmo da economia, mas incólume o país não passa por um terremoto desta intensidade:
— Um momento assim afeta os investimentos. Ele valoriza o movimento de esperar. Quem estava em dúvida sobre investir ou não prefere aguardar os acontecimentos — diz Armando Castelar, do Ipea.
A boa notícia é que ninguém está cancelando investimentos já decididos, pelo menos na visão do presidente da Associação Brasileira de Embalagem, Fabio Mestriner:
— Estamos, sim, preocupados porque é grave o que está acontecendo, mas isso não está afetando os investimentos já programados. Acabou de ser inaugurada uma fábrica grande em Goiás; este ano, continuamos contratando — disse ele.
O setor de embalagens, que é sempre um bom termômetro do que vai acontecer na economia, reviu sua expectativa de crescimento para entre 3% e 3,5%. A razão foi o baixo crescimento até abril, de 2,3%. De qualquer forma, contam com uma recuperação no seu sazonalmente melhor trimestre: o terceiro.
Outros setores como o de químicos, o de vidro, ou mesmo o de eletroeletrônicos não estão vendo na crise política, por ora, o maior dos seus problemas. Hoje os problemas estão muito mais ligados, segundo eles, ao câmbio baixo e aos juros nas alturas.
Nada tranqüiliza. O risco-Brasil não disparou, mas o do México está em 130 pontos; o da Colômbia em 320. Todos abaixo do do Brasil, que só ganha, por pouco, do da Argentina. A economia não está parando, mas poderia estar acelerando não fosse a crise que paralisa o governo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
julho
(532)
- Do foguetório ao velório Por Reinaldo Azevedo
- FHC diz que Lula virou a casaca
- DORA KRAMER A prateleira do pefelê
- Alberto Tamer Alca nunca existiu nem vai existir
- Editorial de O Estado de S Paulo Ética do compadrio
- LUÍS NASSIF A conta de R$ 3.000
- As elites e a sonegação JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
- Lula se tornou menor que a crise, diz Serra
- JANIO DE FREITAS A crise das ambições
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Responsabilidade e amor ...
- ELIANE CANTANHÊDE É hora de racionalidade
- CLÓVIS ROSSI Não é que era verdade?
- Editorial de A Folha de S Paulo DESENCANTO POLÍTICO
- FERREIRA GULLAR:Qual o desfecho?
- Editorial de O Globo Lição para o PT
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Não é por aí
- Miriam Leitão :Hora de explicar
- Merval Pereira Última instância e O imponderável
- AUGUSTO NUNES :A animada turnê do candidato
- Corrupção incessante atormenta a América Latina po...
- Blog Noblat Para administrar uma fortuna
- Diogo Mainardi Quero derrubar Lula
- Tales Alvarenga Erro tático
- Roberto Pompeu de Toledo Leoa de um lado, gata dis...
- Claudio de Moura Castro Educação baseada em evidência
- Dirceu volta para o centro da crise da Veja
- Ajudante de Dirceu estava autorizado a sacar no Ru...
- Até agora, só Roberto Jefferson disse a verdade VEJA
- O isolamento do presidente VEJA
- VEJA A crise incomoda, mas a economia está forte
- veja Novas suspeitas sobre Delúbio Soares
- VEJA -A Petrobras mentiu
- Editorial de O Estado de S Paulo A conspiração dos...
- DORA KRAMER O não dito pelo mal dito
- FERNANDO GABEIRA Notas de um pianista no Titanic
- Economia vulnerável GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES O acordão
- CLÓVIS ROSSI A pizza é inevitável
- Editorial de A Folha de S Paulo A SUPER-RECEITA
- Editorial de A Folha de S Paulo O PARTIDO DA ECONOMIA
- Zuenir Ventura O risco do cambalacho
- Miriam Leitão :Blindada ou não?
- A ordem é cobrar os cobradores
- Mas, apesar disso, o PSDB e o PFL continuam queren...
- Em defesa do PT Cesar Maia, O Globo
- Senhor presidente João Mellão Neto
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Novo fiasco dipl...
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Erros', fatos e ...
- DORA KRAMER Um leve aroma de orégano no ar
- Lucia Hippolito :À espera do depoimento de José Di...
- LUÍS NASSIF Uma máquina de instabilidade
- ELIANE CANTANHÊDE Metralhadora giratória
- CLÓVIS ROSSI Socorro, Cherie
- Editorial de A Folha de S Paulo SINAIS DE "ACORDÃO"
- Editorial do JB Desculpas necessárias
- Villas-Bôas Corrêa A ladainha dos servidores da pá...
- Editorial de O Globo Acordo do bem
- Miriam Leitão :Apesar da crise
- Luiz Garcia A CPI e os bons modos
- Merval Pereira Torre de Babel
- DILEMA PETISTA por Denis Rosenfield
- Ricardo A. Setti Crise mostra o quanto Lula se ape...
- Um brasileiro com quem Lula preferiu não discutir ...
- Editorial de O Estado de S Paulo Do caixa 2 ao men...
- Que PT é esse? Orlando Fantazzini
- Alberto Tamer China se embaralha para dizer não
- DORA KRAMER Elenco de canastrões
- LUÍS NASSIF Uma questão de tributo
- PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. Antídoto contra a mudança
- JANIO DE FREITAS Questão de ordem
- Responsabilidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- DEMÉTRIO MAGNOLI A ética de Lula e a nossa
- ELIANE CANTANHÊDE Caminho da roça
- CLÓVIS ROSSI Legalize-se a corrupção
- Editorial de A Folha de S Paulo PRISÃO TARDIA
- Lucia Hippolito :Uma desculpa de Delúbio
- Cora Ronai Não, o meu país não é o dos delúbios...
- Miriam Leitão Dinheiro sujo
- MERVAL PEREIRA Seleção natural
- AUGUSTO NUNES Tucanos pousam no grande pântano
- Villas-Bôas Corrêa- Lula não tem nada com o governo
- José Nêumanne'Rouba, mas lhe dá um bocadinho'
- Entre dois vexames Coluna de Arnaldo Jabor no Jorn...
- Zuenir Ventura Apenas um não
- Editorial de O Estado de S. Paulo As duas unanimid...
- Luiz Weiss O iogurte do senador e a "coisa da Hist...
- Nunca acusei Lula de nada, afirma FHC
- Editorial de O Estado de S Paulo Triste tradição
- Editorial de O Estado de S Paulo Lula sabe o que o...
- A mentira Denis Lerrer Rosenfield
- As duas faces da moeda Alcides Amaral
- LUÍS NASSIF O banqueiro e a CPI
- FERNANDO RODRIGUES Corrupção endêmica
- CLÓVIS ROSSI Os limites do pacto
- Editorial de A Folha de S Paulo O CONTEÚDO DAS CAIXAS
- Editorial de A Folha de S Paulo A CRISE E A ECONOMIA
- DORA KRAMER À imagem e semelhança
- Miriam Leitão :Mulher distraída
- Zuenir Ventura aindo da mala
- Merval Pereira Vários tipos de joio
-
▼
julho
(532)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário