Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 14, 2005

A poderosa revolta do centro em Israel Thomas L. Friedman

O Estado de S Paulo


Gush Katif, assentamento israelense no coração da Faixa de Gaza, é um lugar incomum, uma mistura bizarra de Violinista no Telhado e Club Med, arame farpado e buggies que andam sobre dunas, surfistas e colonos, todos cercados por mais de 1 milhão de palestinos. No ano passado, porém, o ressurgente centro israelense, a mais importante força política no conflito entre árabes e israelenses hoje, concluiu que esse posto avançado judaico era inviável e o Exército foi ordenado a remover seus colonos como parte de uma retirada geral de Gaza.

O que se desenrola em Israel hoje é um enorme drama no qual este ressurgente centro israelense, tendo acordado para o fato do perigo que estes colonos extremistas representam para o futuro de Israel, finalmente os está confrontando. E os colonos, como crianças há muito mimadas que finalmente levam umas palmadas, estão ficando fora de si. Este é um momento perigoso porque os colonos, que não respeitam a autoridade do Estado israelense, vão tentar qualquer coisa.

Quando estive em Israel, há duas semanas, um grupo de colonos adolescentes, inspirados por um caldeirão de messianismo e fascismo judaico, invadiu uma casa árabe abandonada perto de Gush Katif e rabiscou numa parede em hebraico: "Maomé é um porco." Quando os vizinhos palestinos viram aquilo, começaram a atirar pedras na casa. Alguns garotos colonos pegaram um adolescente palestinos e começaram a golpeá-lo com pedras, o que o Exército israelense descreveu como tentativa de linchamento. O rapaz foi salvo por um soldado israelense e por um jornalista.

Por que escreveram "Maomé é um porco"? A explicação começa com o ressurgimento do centro israelense. A esquerda foi desarticulada pela rejeição, por Yasser Arafat, de um acordo de paz em Camp David. A direita foi desarticulada pelos quatro últimos anos de levantes palestinos, o que deixou claro que Israel não poderá ocupar indefinidamente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza sem perder sua maioria judaica e seu caráter democrático. O colapso da direita e da esquerda gerou o Novo Centro Israelense.

O Novo Centro quer simplesmente desvencilhar-se do maior número de palestinos possível, manter apenas os assentamentos judaicos adjacentes a Jerusalém e Tel-Aviv e esperar que surja uma nova liderança palestina.

O Novo Centro precisava de um líder que tivesse a legitimidade e a firmeza para pôr isso em prática. esse líder acabou sendo Ariel Sharon, o homem que, inicialmente, liderou o movimento dos assentamentos, mas agora concluiu que Israel precisa se ver livre de Gaza para manter seu caráter judaico. A mudança de idéia de Sharon chocou os colonos e muitos prometeram resistir.

"Os colonos acreditam que a autoridade está apenas na Terra de Israel, não no Estado de Israel", disse Moshe Halbertal, filósofo do Hartman Institute e da Universidade Hebraica. "Eles insistem que o Estado não é soberano quando se trata da Terra de Israel. Esta luta é da Terra de Israel contra o Estado de Israel" - e o Estado está ganhando.

É por isso que os garotos colonos escreveram "Maomé é um porco". Eles querem desencadear uma guerra religiosa entre muçulmanos e judeus, guerra que obrigaria todos os israelenses a ficar do lado dos colonos e abortar a retirada. Até agora, isso não tem funcionado.

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