Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 11, 2005

Os três envelopes Alcides Amaral

O Estado de S.Paulo

Esta interessante e oportuna história me foi enviada por leitor do Estadão quando do auge da "herança maldita". Isto é, tudo o que estava errado ou dava errado era culpa do governo anterior. O governo Lula e seus principais assessores não tinham nada que ver com isso. Vamos a ela, pois!

"Um presidente mais velho pede demissão de uma companhia e é substituído por um mais jovem. A matriz pede ao presidente que fique mais 30 dias no posto passando sua experiência no cargo ao sucessor. Durante os 30 dias, nada acontece. No último dia o presidente chama o mais jovem e diz: 'Como você percebeu, eu achei que não tinha nada para lhe ensinar sobre o trabalho e você não tinha nada a aprender. Desejo-lhe, pois, sucesso na nova missão e vou deixar a você três envelopes. Em cada crise real que você tiver, abra um envelope e lá estará, numa frase, a solução para a crise.' E foi-se embora.

Depois de um ano, tremenda crise. O jovem, inteligente, abre o primeiro envelope e lá estava a frase: 'Ponha a culpa no presidente anterior.' Ele rapidamente convoca todos os seus subordinados e põe toda a culpa da crise no seu antecessor."

Foi isso o que exatamente aconteceu aqui, no nosso país, quando das primeiras críticas com relação a juros, endividamento elevado, investimentos nas áreas sociais, etc. A "herança maldita" passou a ser a saída para todos os problemas. O governo Lula não tinha culpa alguma, tudo era "herança maldita" do governo Fernando Henrique Cardoso.

E a história continua: "Depois de mais algum tempo, nova crise terrível. O jovem executivo, sem saber ao certo como reagir, corre e abre o segundo envelope, que simplesmente dizia: 'Reorganize.' Ele muda toda a estrutura, troca executivos e a crise passa."

O presidente Lula, tendo de enfrentar a sua, até aqui, mais terrível crise política, reage da mesma forma. Com o PTB, o PP e o PL, partidos que lhe davam suporte, duramente atingidos pelas denúncias do "mensalão" e com o PT, seu partido de origem, em frangalhos, foi buscar apoio no PMDB e deu início à "reorganização". Na sexta-feira à tarde deu posse a três novos ministros, todos oriundos do PMDB. E, como se sabe, a "reorganização" não terminou por aí. Mais mudanças em nível ministerial, nomeação de novos dirigentes nas estatais e até um inédito "choque de gestão" fazem parte do cardápio para que a crise seja superada. Tarefa difícil, pois até o relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio, do PMDB do Paraná, afirma que a situação do governo e do PT "está se agravando". Mas, assim como na história, é o que deve ser feito e o presidente Lula está empenhado em, desta feita, "reorganizar" para valer. Tudo para fazer com que a crise seja superada.

Como a história ainda não terminou, vamos ao parágrafo final. "Depois de algum tempo, crise ainda maior. O jovem executivo, já meio desesperado, corre para o último envelope e lê: 'Prepare três envelopes.'"

A história pode terminar por aqui mesmo, como mais uma simples e triste história. Que nos fornece algumas lições e nos ensina a ouvir os mais experientes, ter a humildade de perguntar aquilo que não sabemos. Enfim, ter a consciência de que ninguém sabe tudo, sempre temos muito a aprender.

Para o bem geral da Nação - especialmente dos petistas -, a expectativa é que o presidente Lula não precise preparar os três envelopes. Tarefa possível, mas que não parece fácil de ser evitada à luz dos fatos atuais.

O Brasil do governo Lula atravessa hoje sua pior crise. Os 25 anos de luta para chegar ao poder, com posições firmes com relação à ética pessoal e profissional, estão desmoronando. Se depender do PT, o presidente Lula terá de ir para o terceiro envelope. Só não o fará caso tenhamos uma grande reviravolta aí pela frente. Que as várias CPIs e outras comissões em andamento acabem em pizza, isto é, sacrificam-se algumas cabeças e continuamos a vida normalmente.

Quando, segundo a DataFolha, 65% dos petistas acreditam haver corrupção no governo Lula, a tarefa para mudar esse quadro extremamente negativo não é das mais fáceis. As denúncias do deputado federal Roberto Jefferson - que, aliás, ganham reforço a cada dia que passa - teriam de ser descaracterizadas e ele passar a ser o maior mentiroso da história recente do País.

Não bastasse, o presidente Lula, que já mereceu a confiança de 80% da população em março de 2003, viu sua credibilidade cair para 56% em junho de 2005, antes que o escândalo do "mensalão" viesse a público. Os dados são preocupantes por si sós e poderão ser mais desgastantes nas próximas pesquisas, pois nova queda na confiança do presidente pode significar que o "lulismo" também estará seguindo os passos do "petismo".

O que importa, agora, é como sairemos desta grave crise política. A economia, por enquanto, tem conseguido se equilibrar sem grandes traumas, embora as perspectivas futuras sejam mais sombrias do que eram há alguns meses. Espera-se que o Congresso termine seu trabalho em tempo razoável (60-90 dias) para que possa voltar a trabalhar em prol da melhoria dos fundamentos do País. Hoje, as comissões de sindicância e CPIs ocupam todo o tempo disponível e a atenção dos congressistas.

Caso, entretanto, a crise se arraste e se alastre, o terceiro envelope passa a ser uma alternativa que não devemos descartar. Os jornais já mencionam discussões visando ao fim da reeleição e o senador Cristovam Buarque, do PT do Distrito Federal, é mais objetivo quando afirma que "não concorrer à reeleição pode ser a saída para o PT e para Lula".

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