Como o lobista Fernando Moura, representante de José Dirceu e Silvio Pereira, intermediou negócios na Petrobras
Felipe Patury e Francisco Mendes
Sergio Dutti/AE |
O HOMEM DO PT NA PETROBRAS Amigo de José Dirceu, Fernando Moura chegou a entrevistar candidatos para dirigir a estatal, ao lado de Silvio Pereira. Depois, defendeu os interesses da GDK, da Alpina e da Fels Setal junto à empresa |
A Petrobras é a maior fonte de negócios do governo. Investe por ano 22 bilhões de reais. Tanto dinheiro atiçou o PT, que avançou sobre a estatal com a voracidade de quem descobre um campo de petróleo. Nos últimos anos, algumas das polpudas transações feitas pela empresa passaram pelos amigos do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. No início de 2003, ele incumbiu o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira de selecionar os candidatos a cargos de direção na estatal. Essa tarefa garantiu a Silvinho especial autoridade sobre o diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, indicado para o posto por outro amigo e representante de Dirceu, o lobista Fernando Moura. Dois parlamentares e quinze empresários contaram a VEJA como Silvinho e Moura intermediaram o trânsito de empresas privadas na Petrobras. Entre elas, a baiana GDK, que deu a Silvinho um Land Rover de 73.500 reais. Na semana passada, o caso veio a público e Silvinho acabou se desfiliando do PT. Não sem antes proclamar que continuará a ser "um lutador social, nessa hora em que as forças conservadoras se aproveitam para sitiar o governo Lula". A "luta" de Silvinho, na verdade, foi nas colunas sociais, que passou a freqüentar quando o PT chegou ao poder.
Dida Sampaio/AE |
SILVINHO E SEU CARRÃO O ex-secretário do PT ajudou a GDK a ganhar 512 milhões de reais em 2004. Agradecida, a empresa deu-lhe um Land Rover de 73 500 reais |
A GDK começou a prestar serviços à Petrobras em 1994. Deslanchou em 2002, quando seu dono, César Oliveira, conheceu Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente Fernando Henrique, e David Zylberstajn, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo. Naquele ano, os contratos da GDK com a estatal saltaram de 126 para 430 milhões de reais. A amizade com os tucanos se transformou em desvantagem quando Lula assumiu. No primeiro ano do governo petista, os contratos da empresa com a Petrobras encolheram 34%. Para evitar maiores perdas, a GDK contratou em março de 2003 uma dupla de lobistas. Eles entraram no jogo e a empresa conseguiu o apoio do atual ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner – do qual Oliveira havia sido o principal financiador na campanha de 2002 para governador da Bahia. O ministro hoje tem uma filha empregada na GDK e Oliveira furou o bloqueio imposto à empresa por Moura e Silvinho. Marcou um encontro com Moura em abril de 2003 e outro, três meses depois, com Silvinho.
Depois das conversas com os representantes de José Dirceu, a GDK recuperou seu espaço na Petrobras. E como! Seus contratos atingiram 512 milhões de reais em 2004. O principal deles, de 240 milhões de reais, foi a reforma da plataforma P-34. A GDK cometeu um erro formal em sua proposta, não tinha atestado ambiental e participou da licitação mesmo sem constar do cadastro de serviços de plataformas. Eram motivos suficientes para que fosse descartada. Não foi. Oliveira ficou grato a Silvinho e a Moura. Ao primeiro deu, pelo menos, o tal Land Rover. Ao segundo, pelo menos, abrigo na hora do aperto. Moura mantinha um apartamento em Brasília até a erupção do escândalo Waldomiro Diniz. Depois disso, passou a despachar no escritório da GDK no Rio. De lá, Moura defendeu os interesses de outra empresa na Petrobras. Em 2000, no governo FHC, a Alpina firmou um contrato de segurança ambiental que lhe renderá 160 milhões de reais. Como o contrato vence em 2006, a empresa terá de participar de nova licitação. Moura luta para que ela concretize seus objetivos.
Bruno Spada/ABR |
TOMA LÁ, DÁ AQUI A GDK pagou a campanha de Jaques Wagner e empregou sua filha. Em troca, ele a reaproximou do governo |
No início do governo Lula, o estaleiro Fels Setal também pediu ajuda a Moura e Silvinho. A empresa é uma associação entre o Fels, de Cingapura, e a Setal brasileira. Em 2002, ganhou a licitação para construir a plataforma P-51. A concorrência foi anulada pelo governo petista, que abriu nova licitação. A Setal estava, então, com um problema para ganhar a disputa: enfrentava na Justiça pedidos de falência. Recorreu a Moura. Em maio de 2003, ele apresentou Roberto e Augusto Mendonça, sócios do estaleiro, a Silvinho. Num passe de mágica, ganharam não só a P-51 como também a P-52. As duas obras renderão 4 bilhões de reais. O estaleiro Mauá Jurong registrou em cartório uma proposta para fazer as obras por 600 milhões de reais a menos, mas foi desclassificado. Depois que ganharam as licitações, os irmãos Mendonça venderam a Setal para os sócios de Cingapura. A GDK, a Alpina e o Fels Setal estão na alçada da diretoria de Renato Duque, o indicado pela dupla dinâmica Moura/Silvinho. Por meio de sua assessoria, ele diz que não é apadrinhado dos representantes de Dirceu e que nunca discutiu os casos dessas empresas nos seus muitos encontros com Silvinho. A Petrobras diz que a GDK também faturava alto no governo tucano e que a renovação do contrato com a Alpina não está decidida. Afirma ainda que não houve prejuízo no caso do Fels Setal. Desde que estourou o escândalo dos Correios, Moura desfruta o doce caviar do exílio. Pode ser encontrado em Paris. Petista chique é outra coisa.
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