Folha de S Paulo
Assistimos a um clima de euforia entre os diretores do Banco Central pelo fato de ser possível, pelo menos na sua imaginação, o cumprimento da meta de inflação fixada para este ano. Essa mesma euforia pode ser notada na parcela da imprensa especializada mais próxima de nossa autoridade monetária. Um desses jornais fala da possibilidade de ser atingida a meta dita "impossível" pelos críticos da ação do governo. Sinto-me desafiado por essas afirmações, por ter sido um constante crítico da meta de 5,1%, estabelecida para a variação do IPCA neste ano. Volto, portanto, a essa questão neste nosso encontro semanal.
A manutenção da Selic -a taxa de juros fixada pelo BC- em 19,75% ao ano, na última reunião do Copom, revela de maneira cristalina que o governo ainda persegue o chamado centro da meta. Na prática, essa decisão implica um aumento do juro real imposto à economia, na medida em que a inflação corrente não supera os 5% ao ano. Vivemos, hoje, um pico histórico -quase 15% ao ano- desse preço (o juro real) fundamental para o processo econômico.
Essa situação provoca três movimentos importantes em nossa economia. O primeiro é a elevação do custo fiscal da rolagem da dívida pública interna e a exigência de um esforço fiscal adicional para manter estável a relação dívida/PIB. O segundo é seu impacto sobre o nível da atividade econômica, principalmente sobre as decisões de investimento das empresas produtivas. O terceiro é a continuidade da valorização do real, em razão de movimentos financeiros de curto prazo.
Vou me concentrar sobre a questão da valorização do real. Ela é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para acelerar a convergência para a meta de inflação fixada para 2005. Um real mais valorizado afeta, de maneira direta, o preço dos produtos importados e das matérias-primas e alimentos que, embora produzidos internamente, têm seus preços fixados em dólar nos mercados internacionais. A redução das expectativas de inflação, ocorrida nas últimas semanas -de algo como 6,2% para próximo de 5,7%- deve-se integralmente a esse efeito do câmbio. A fixação dos juros da Selic em 19,75% visa, claramente, manter o real valorizado e perenizar seus efeitos sobre parcela significativa dos preços ao consumidor.
O real artificialmente forte, pela ação dos juros internos elevados, tem um caráter transitório. Com juros mais baixos, o que deverá ocorrer nos próximos meses, a taxa de câmbio não será mais essa. No entanto, o choque positivo de hoje sobre os preços tenderá a influenciar a inflação futura, via mecanismos de indexação de preços aos chamados IGPs. A valorização cambial é um instrumento eficaz da política de combate à inflação, mas que traz custos importantes em termos de produção interna e estabilidade de longo prazo para o setor exportador. Creio que sua utilização, hoje, para viabilizar a meta atual de inflação, tenha mais aspectos negativos do que positivos para a nossa economia.
O Brasil tem realizado um tremendo esforço para aumentar suas exportações de maneira perene, e a volatilidade da taxa de câmbio dos últimos meses pode influenciar negativamente as decisões de longo prazo. Afinal, nos últimos 12 meses, os exportadores amargam perdas de até 27% em suas receitas em reais. Eu não correria o risco de afetar esse que é o grande motor da modernização de nossa economia para ganhar alguns decimais na taxa de inflação deste ano. Mas o governo do PT -e os economistas que comandam as ações do Banco Central- rezam por uma cartilha de pensamento econômico diferente da minha.
Com a inflação convergindo para a meta do próximo ano e os juros refletindo uma busca compulsiva de um número mágico fixado para 2005, não há outro caminho senão provocar um aumento importante dos juros reais na economia. Vamos ter um novo recorde, durante os próximos meses, recolocando certamente o Brasil no topo do ranking de juros elevados no mundo que nos cerca.
Entrevista:O Estado inteligente
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