o globo
O Copom tem condições técnicas para reduzir os juros já na reunião de hoje, mas a aposta de dez entre dez analistas do mercado é de que só em agosto os juros serão reduzidos. Ao não diminuir a taxa, o Banco Central está, na prática, elevando os juros reais, porque a inflação tem caído mais forte e mais rapidamente, tanto o acumulado dos últimos 12 meses quanto as projeções futuras.
A economia continua pro`duzindo algumas boas notícias e sérios alertas de que não há como separar definitivamente a questão econômica de uma conjuntura incandescente na área política. Não são mundos paralelos. Apenas têm tempos e lógicas diferentes.
Na lista das boas notícias, a primeira é a queda consistente da inflação nas últimas semanas, que foi mais forte e mais rápida do que se imaginava. Quando olham para trás, os economistas calculam a taxa de juros real ex post . Pois bem, em maio, a inflação em 12 meses estava em 8% e, no fim de julho, poderá ter caído para 6,5%. Quando olham para frente, eles calculam a taxa de juros ex ante . As projeções de inflação para 2005 caem sistematicamente há nove semanas. Em 20 de maio, a previsão estava em 6,38%, agora está em 5,67%. Isso significa que ex ante e ex post os juros reais subiram nas últimas semanas. O correto seria derrubar a taxa de juros nominal, altíssima, nem que fosse em miúdos 0,25 pontos percentuais. Ainda assim, os juros não deixariam de ser altíssimos. Mas o mercado inteiro aposta que a opção do Banco Central será a de só começar a reduzir as taxas em agosto.
Não há uma explicação única para a queda da inflação. Preços competitivos e preços administrados tiveram queda. Houve redução por causa dos juros altos, por causa do dólar baixo e porque os preços dos alimentos subiram menos do que se temia.
Outra boa notícia: a superarrecadação do governo. Ontem ele anunciou que, em junho, seus cofres receberam dos contribuintes R$ 31,6 bilhões, mais do que se projetava. Ao longo do ano, já recolheu R$ 175,7 bilhões. Isso dá uma folga fiscal que pode até levá-lo a subir o superávit primário, o que seria uma demonstração de que as questões econômicas não estão sendo influenciadas pela pororoca política. Alguns dados confirmam crescimento econômico. A arrecadação do IPI, por exemplo, teve aumento de 17% sobre o mesmo mês do ano passado, descontando-se o IPCA. A da CPMF cresceu 5%.
Para tornar mais racional a arrecadação dos tributos e taxas, deve ser criada em breve a chamada Super Receita. Será o segundo passo de um movimento que começou em setembro do ano passado, quando a Secretaria de Receita Previdenciária deixou de estar ligada ao INSS para subir na estrutura burocrática e ficar ligada diretamente ao ministro da Previdência. Agora será unificada com a Receita Federal, que passará a coletar uma receita da ordem de R$ 400 bilhões por ano. O que os técnicos da Receita dizem é que será mais fácil inclusive para o contribuinte. Quem precisar de certidão negativa vai agora a um local só, os processos serão simplificados. Para o governo, será também mais racional porque todo o planejamento da ação de fiscalização será integrado. Só a notícia de que um governo neste grau de paralisia consegue pôr para andar uma decisão como essa já é boa.
Outras decisões foram tomadas na área econômica recentemente. Uma delas, o pré-pagamento do FMI, que vai economizar juros que seriam pagos nos próximos dois anos. Não é uma economia trivial. A estimativa de mercado é que deixem de ser pagos juros da ordem de US$ 1,8 bilhão. O anúncio de que o governo recomprará os C-Bonds tem várias implicações. Pelas normas da SEC, o governo brasileiro não pode comentar a operação, mas ela vai tirar de mercado um papel que tem a marca do calote, ainda que renegociado, por um papel inteiramente novo. O C-Bond nasceu na renegociação da dívida externa conduzida por Pedro Malan. No começo dos anos 90, o Brasil voltou ao mercado através daquela bem- sucedida negociação, após o calote dos anos 80. O papel foi se tornando um dos títulos mais líquidos do mercado dos emergentes e um dos mais valorizados, mas traz a marca de ser uma securitização pós-moratória. Como ele tem cláusula de recompra, segundo os técnicos, tem o efeito de puxar para cima a curva de juros cobrados do Brasil. A troca reorganiza o passivo e alonga a dívida.
Os dados sempre surpreendentes de exportação — tanto em quantidade quanto em preço de produtos vendidos pelo Brasil — levaram os bancos a refazerem durante o ano inteiro as previsões de saldo comercial para 2005. O Bradesco esta semana elevou para US$ 39 bilhões o piso de suas projeções. Vai ser, segundo o banco, pelo menos nesse montante. Há muito tempo, o Bradesco, como resultado de suas pesquisas junto aos exportadores, vinha alertando que o superávit comercial poderia ser muito acima do que se previa no começo do ano.
As boas notícias da área econômica ajudam a retardar o efeito da crise política na economia, mas não a protegem inteiramente. O mercado hoje opera com um olho no peixe outro no gato. Os analistas comemoram os bons ativos financeiros, mas acompanhando cada sessão da CPI e cada boato sobre novas revelações que possam complicar o quadro. Os empresários do setor produtivo mantêm seus investimentos mais ousados na gaveta à espera de um tempo melhor.
Entrevista:O Estado inteligente
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