no mínimo
O que começa errado, tal como o pau que nasce torto continua sinuoso, a mistificação não dura muito e, nos estertores de casos extremos, afunda no lodaçal da corrupção.
Não é preciso forçar a mão para enquadrar o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores no venerando provérbio da sabedoria popular. Ou na inacreditável trapalhada da farsa urdida para safar o governo e transferir a cangalha para o lombo do PT no escândalo que tresanda a catinga das tramóias conjugadas do mensalão e do financiamento de campanhas eleitorais com o dinheiro da Viúva, desviado para empréstimos fajutos à legenda da desbotada estrela vermelha.
Quando as evidências irrompem por todas as frestas das trapaças, salpicando lama nos gabinetes palacianos, a dupla de espertalhões formada pelo tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, e o empresário Marcos Valério acertou os ponteiros do desespero na combinação típica das tramas de fuga nas celas de penitenciária, de escapar pelo bueiro do inexplicável com a patranha esfarrapada da operação triangular: o partido, endividado até o gogó com a ajuda de milhões aos diretórios estaduais e municipais e aos aliados, apelou para o empresário da trupe. Safo e exibindo prestígio, levantou empréstimos bancários, escorados nos adiantamentos de contratos de publicidade firmados com empresas públicas, amolecidas pelos pistolões oficiais.
Neste compasso da dança mal ensaiada entra o presidente Lula, na última sexta-feira, horas antes do embarque no Aerolula com a alegre caravana, da curta temporada de festas em Paris.
O fuso horário ajudou a pisadela no calçado dos parceiros: a França tem cinco horas a mais do que o Brasil. Lula despediu-se da França às 13h30m. Hora antes, no buraco da diferença horária, concedeu a calamitosa entrevista, pendurada no cacho de erros, incorreções que se espalhou sobre a crise como gasolina entornada na brasa do monturo.
Numerando, para facilitar o encadeamento:
1 – Lula alinha-se entre os presidentes com piores relações com a imprensa, comparável aos generais-presidente da ditadura militar. Esbanja simpatia nos encontros; cerra a boca de falastrão nas recusas aos pedidos de entrevistas. Em dois anos e meio de mandato concedeu, arrancada a fórceps, uma entrevista coletiva, com direito a uma única pergunta dos repórteres sorteados, sem direito à réplica.
2 – Súbita e urgente necessidade alterou a norma e exigiu a improvisação de entrevista presidencial em cima da hora do embarque. Repórteres de TVs, rádios, jornais e revistas brasileiras é o que não faltava na cobertura da viagem presidencial. A solução natural seria a entrevista coletiva. Na última das alternativas, o convite ao jornalista da estima de Lula.
3 – A extravagância da preferência pela repórter brasileira Melissa Monteiro, que trabalha para uma televisão francesa, cutucou as suspeitas que logo seriam desvendadas: só uma jornalista desinformada e inexperiente engoliria as explicações e balançaria na rede armada para amortecer os solavancos na baldeação das tramóias para o PT.
4 – A emenda desgraçou o soneto de pé quebrado. Lula desprezou pára-quedas e esborrachou-se no chão escorregadio. Afirmou que a arrecadação ilegal de dinheiro para abastecer o esquema de caixa dois é pratica comum no Brasil e que o PT fez é o que todos fazem. Confissão explícita crime eleitoral.
5 – Explicou a série de gravíssimas trambiques que enredam o PT em crise desmoralizante com a imodesta desculpa da fragilização dos quadros dirigentes desfalcados com a eleição dos competentes para postos no Executivo. Citou o seu exemplo. De uma só tacada encaçapou todos os integrantes das últimas diretorias, a começar pelo presidente licenciado José Genoino no buraco dos coveiros do PT.
6 – Além de confessar a prática de crime eleitoral, deixou clara a sua cumplicidade com a manobra da dupla Delúbio-Valério, articulada no Brasil horas antes e levada ao seu conhecimento pelos assessores, em contacto direto com a base: óbvio que soube do conchavo antes da entrevista e antecipou a desculpa.
O desespero nunca foi bom conselheiro. É compreensível a aflição que desatina o governo e contagia o presidente. A avalanche de denúncias e documentos desaba sobre a CPI dos Correios, inunda o Conselho de Ética, esmurra a porta da nova CPI do mensalão.
Uma pitada de bom senso no panelão da crise facilitaria o reconhecimento da evidência de que muitos serão atingidos pelos respingos da fervura. E se não chegou a hora de buscar a saída consensual para o terremoto institucional antes que a apuração defina os crimes cometidos, identifique os culpados e encaminhe as denúncias à Justiça, nunca é cedo para que a roda de especulação que não pára de girar convoque as lideranças naturais para as avaliações preliminares.
Pois a crise rompeu as amarras e nada pode detê-la. Se não se pode prever o tamanho da calamidade é de transparente visibilidade que a solução só será viável com uma reforma profunda, com medidas radicais e para valer, quer vá a raiz das distorções que contaminam os três poderes.
A crise está solta e fará muitas vítimas: mandatos vão rolar.
Entrevista:O Estado inteligente
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