Em meio à dramática deterioração do quadro político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta preservar o que ainda resta de seu governo com uma reforma ministerial que apenas piora -se isso ainda era possível- o perfil do primeiro escalão. Frustrado na tentativa de atrair em bloco o PMDB, o presidente assim mesmo apostou em representantes desse consórcio fisiológico de tendências políticas, dando à sua administração um perfil que já em nada representa as aspirações do eleitor por mudanças no país.
As nomeações de Hélio Costa para as Comunicações, de Saraiva Felipe para a Saúde e de Silas Rondeau para as Minas e Energia simbolizam o deprimente estado a que chegou a administração petista. Quanto à escolha do presidente da CUT para o Ministério do Trabalho, que alguns poderiam ver como uma tentativa de reconciliação com as bases do partido, apenas contempla a elite de um sindicalismo decadente e vergado pelos interesses do poder.
A conta-gotas, a reforma talvez ainda reserve alguma surpresa positiva, mas nada, a essa altura, é capaz de evitar a sensação de que o governo Lula chegou ao fim um ano e meio antes de encerrar-se o mandato presidencial. Não por acaso, vão surgindo em cena propostas de "pajelanças" econômicas e notícias sobre conchavos políticos com o intuito de dar algum sentido, ilusório que seja, ao período que resta e evitar a precipitação de uma crise institucional.
Enquanto os responsáveis pela economia reúnem-se para ouvir sugestões do deputado Delfim Netto acerca de medidas fiscais, outros emissários do governo conversam com representantes da oposição em busca de uma fórmula mágica para dissipar a crise e afastar de cena a perspectiva de um processo de impeachment, com a ascensão do vice José Alencar ao comando do Executivo -hipótese que inspira justificáveis apreensões.
A principal peça do conluio seria acelerar a tramitação de emendas constitucionais que prevêem o fim da reeleição de presidente, governadores e prefeitos. A medida já valeria para Lula. Com o fim da reeleição, os envolvidos na trama acreditam que haveria melhores condições para despolitizar e controlar as apurações e fornecer amparo ao presidente. O acordo seria complementado com um pacto para definir a extensão das cassações de supostos envolvidos em desvios -entre os quais figura o deputado José Dirceu.
A proposta é descabida. Não se pode fazer uma mudança dessa natureza às pressas, de maneira casuística. Além disso, atribuir à reeleição a culpa pela corrupção é uma visão simplista do problema. Da mesma forma que PC Farias não pode ser explicado pela reeleição -que não existia à época do governo Fernando Collor de Mello-, é uma ingenuidade acreditar que o mar de lama que vai cercando o governo petista teria sido evitado caso o primeiro mandatário não pudesse se candidatar a uma segunda administração.
Entrevista:O Estado inteligente
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