Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 11, 2005

À margem das investigações Lucia Hippolito

blog noblat


"Um personagem vem sendo esquecido, nesta avalanche de lama que parece engolir a tudo e a todos. No PT, no governo Lula e na Câmara dos Deputados.

Por que será que o deputado João Paulo Cunha tem sido poupado de perguntas, dispensado de dar explicações, exonerado mesmo de qualquer responsabilidade?

Vamos aos fatos. João Paulo Cunha candidatou-se a presidente da Câmara dos Deputados, em 2003, e contratou uma agência de publicidade para fazer sua campanha. Até aí, tudo bem, tudo normal.

Mas por que cargas d'água alguém contrata uma agência para fazer uma campanha em que não há competidores? Isso mesmo. João Paulo concorreu em chapa única. Podia ter poupado a Câmara ou o PT, sei lá quem pagou, dessa despesa inútil. E quem foi o publicitário escolhido? Ele mesmo, Marcos Valério, atualmente o brasileiro mais conhecido e mais presente na mídia e nas conversas.

Sem adversários, João Paulo Cunha foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. E decidiu, vejam só, contratar uma agência de publicidade para cuidar da imagem da Câmara dos Deputados. E qual foi a agência escolhida? Ela mesma, a agência de Marcos Valério, que tinha feito aquela campanha eleitoral inteiramente desnecessária. Desnecessária, é preciso repetir, porque João Paulo era candidato único à presidência da Câmara.

Vamos em frente. Em 2003, a Câmara dos Deputados pagou à agência de Marcos Valério cinco milhões e 900 mil reais. E em 2004, segundo ano do mandato de João Paulo Cunha como presidente da Casa, dez milhões e 500 mil reais. Ou seja, um pequeno aumento de 177%. Tudo isso para fazer propaganda da Câmara dos Deputados.

Será que os 513 deputados federais tinham conhecimento disso? E será que os 513 deputados sabiam que João Paulo encomendou ao amigão Marcos Valério pesquisas sobre suas chances na disputa pelo governo de São Paulo?

Tudo pago pela Câmara, naturalmente.

A pergunta é: por que diabos a Câmara precisa fazer propaganda de sua imagem, se possui a TV Câmara, a Agência Câmara de notícias, site na Internet, espaço diário na Voz do Brasil e pode requisitar cadeia de rádio e TV a qualquer momento?

Nesta hora em que cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de copas, por que será que o deputado João Paulo Cunha se considera acima de qualquer suspeita?

Como toda esta farra é custeada com o meu, o seu, o nosso dinheiro, aguardamos ansiosamente as explicações do deputado petista João Paulo Cunha. E é bom que elas sejam, pelo menos, verossímeis, ou seja, tenham cara de verdade.

A sociedade brasileira está cansada de descobrir dólares na cueca dos companheiros."

Um comentário:

ARTIGOS disse...

Pífios R$ 50 mil. Mas que estrago!



Não são os fatos. São os números o que mais impressiona no noticiário da crise da corrupção. Basta ver quanto a senhora Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério, tentou sacar ontem em dinheiro vivo de uma conta do casal no BankBoston de Belo Horizonte: R$ 1,9 milhão. Quantos de vocês se lembram de ter retirado alguma vez na boca do caixa mísero R$ 1,9 mil?

Num caso, porém, os fatos falam mais alto. Os R$ 50 mil sacados do Banco Rural em 4 de setembro de 2003 pela senhora Márcia Regina Cunha, mulher do então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, são café-pequeno perto do valor médio embolsado pelas outras 45 pessoas autorizadas por Valério a passar a mão na bufunfa que alcança R$ 25,5 milhões.

Os R$ 50 mil cabem 180 vezes no contrato que o deputado petista assinou três meses depois com o bom Valério para fazer a publicidade da Câmara – leia-se do pré-candidato ao governo de São Paulo que a presidia. No ano seguinte, o contrato recebeu mais duas injeções, no total de R$3,8 milhões.

Quando o nome da senhora Cunha apareceu pela primeira vez no noticiário – na lista que misturava alhos com bugalhos dos frequentadores da agência do Rural em Brasília, entregue pelo deputado Rodrigo Maia à Rede Globo, que irresponsavelmente a levou ao ar no Jornal Nacional – o marido explicou por escrito à CPI dos Correios que a sua mulher e também a sua secretária foram mais de uma vez ao banco acertar uma dívida de TV por assinatura.

Na sexta-feira passada, pensou melhor. E retirou o documento enviado à CPI (como o Globo deu em primeira mão). Hoje, informam os diários, João Paulo chegou a escrever uma carta de renúncia ao mandato, mas de novo pensou melhor.

Depois de se aconselhar com os senadores José Sarney e Renan Calheiros – bons conselheiros esses –, achou que era o caso de esperar. E sumiu de cena, acompanhado da digníssima. Mas não antes de dizer, segundo a Folha, que está se sentindo “usado” e que não vai “cair sozinho”.

Sozinho ou mal acompanhado, a queda é certa. Assim como a dos Janenes, Valdemares e outros figuraças do mensalão/”recursos não contabilizados”, conforme o eufemismo do professor Delúbio – e do denunciante do esquema (que também parece tê-lo beneficiado), o operístico Roberto Jefferson.

A derrocada de João Paulo só fará menos barulho do que a do seu mentor José Dirceu.

Podiam ter pelo menos a decência de se curvar sobre a espada. Mas o inflexível senso nipônico de vergonha nunca vicejou no clima de secura ética do Planalto.
do BLOG LUIZ WEIS

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