Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 12, 2005

Lucia Hippolito :O desafio de reconstruir o PT

blog noblat

 

"No Brasil, 27 partidos políticos têm registro definitivo. Destes 27, 14 têm representação na Câmara. Isto mostra como é fácil criar um partido no Brasil. Difícil é fazer funcionar.
 
Construir um partido é tarefa delicada, que requer dedicação total e perseverança diante dos obstáculos. Até hoje, uma das marcas mais conhecidas do país é o MDB. É a história de uma frente de resistência à ditadura, da liderança de Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Amaral Peixoto, Teotônio Villela, Thales Ramalho, Franco Montoro e tantos outros. Derrotas, vitórias, tudo isto constitui a memória do MDB.
 
Assim também, o PT é uma construção vitoriosa. Nascido do casamento entre o movimento sindical e a Igreja Católica, recebeu a adesão entusiástica de intelectuais, estudantes, funcionários públicos. Cresceu, elegeu vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e finalmente conquistou a presidência da República.
 
Mas o partido não estava preparado para ser governo em regime democrático. Atrapalhou-se nas votações no Congresso, foi com sede demais ao pote dos cargos, participou ativamente do aparelhamento da máquina federal, ocupou ministérios para os quais não tinha quadros competentes, essa é a verdade.
 
O PT, que não se construiu como um partido democrático, muito ao contrário, entregou-se à mais feroz disputa interna, num espetáculo de canibalismo político nunca visto neste país. Todos falavam mal de todos. E todo mundo odiava José Dirceu.
 
Nos últimos dias, a nação tem assistido, estarrecida, ao desmoronamento ético da cúpula petista, envolvida em tenebrosas transações, publicitários com malas de dinheiro e companheiros apanhados com dólares na cueca.
 
É demais para o militante que ficava na chuva carregando a bandeira vermelha do partido e que pensava que as campanhas eram custeadas com a venda das estrelinhas do PT. O que se pode dizer para consolar a militância, que ignorava totalmente que o partido tinha sido capturado por uma camarilha a serviço Deus-sabe-de-quê ou de quem?
 
Mas a verdade é que o PT é importante demais na história dos partidos políticos brasileiros para se desmanchar assim, entre malas de dinheiro e licitações fraudulentas.
 
Por isso, é muito acertada a decisão de tentar colar os cacos e reconstruir o partido. Jogar luz sobre todos os processos, escancarar as portas, acabar com a mania stalinista de segredos e dossiês. E sobretudo banir para sempre a moral bolchevique, segundo a qual pequenos deslizes éticos são permitidos em nome da revolução. De uma vez por todas: o Muro de Berlim caiu há 14 anos. Parece que certas lideranças petistas ainda não tinham sido avisadas. Pois agora foram.
 
O regime aqui se chama democracia representativa. Tem lugar para o PT, sim senhor. Contanto que jogue o jogo democrático. Ainda há tempo para aprender."

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