Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 15, 2005

Luxo não é caso de polícia João Mellão Neto

o estado de s paulo

Não tenho poupado elogios à Polícia Federal (PF) e ao seu modo de agir na atual gestão. O que mudou foi o seguinte: em vez de de dar flagrante ao primeiro indício de irregularidade, a PF, agora, se mantém em silêncio e monitora os suspeitos até levantar provas suficientes para instruir uma ação penal. Com isso evita que, no julgamento, os réus e seus advogados desmontem a instrução frágil dos processos e acabem levando o juiz a absolvê-los por falta de provas.

Só tenho elogios à PF e ao seu atual diretor, o dr. Lacerda. No recente episódio da Daslu, porém, há que lamentar a truculência e o sensacionalismo com que os policiais procederem à ação. Se, eventualmente, a Daslu sonega impostos, ela deve ser punida e o erário, devidamente ressarcido. Mas nada justifica a prisão sumária de Eliana Tranchesi, proprietária da loja, e a espetaculosa ação no local, com mobilização de dezenas de agentes fortemente armados e até mesmo o uso de helicópteros. Não bastasse todo esse aparato descabido, a PF ainda se preocupou em mobilizar toda a imprensa, como se estivesse realizando a mais destemida e heróica das missões.

Ora, Eliana Tranchesi não é nenhuma facínora, tampouco a Daslu é o emblema do crime nacional. À parte eventuais problemas de evasão fiscal, o maior pecado da sra. Tranchesi, aos olhos de muitos, foi ter inaugurado, dois meses atrás, a sua portentosa nova sede, às margens do Rio Pinheiros. Já estive lá. É de prender a respiração. São quase 20 mil m² do mais puro requinte. Um investimento próximo a US$ 100 milhões. Não há nada que se iguale à nova Daslu em toda a América Latina. Poucos centros de compras existem, em todo o mundo, que a superem em luxo e suntuosidade.

Minha primeira impressão foi de orgulho, por contar, em minha cidade, com um espaço de tal gabarito. Qual não foi a minha surpresa ao constatar que, por uma parte da imprensa, a nova Daslu foi recebida com reservas, escárnio e até indignação. Ocorre que na sua vizinhança existe uma favela. Foi o que bastou para repórteres e fotógrafos sem imaginação (mas com muito ressentimento) transformarem a loja num símbolo da desigualdade social no Brasil.

"É um acinte!", escreveram alguns. "É uma vergonha!", protestaram outros. "Uma simples roupa na Daslu custa vários salários mínimos!"

Curioso. Eu acreditava que o comunismo havia sido definitivamente enterrado nos escombros do Muro de Berlim. Não imaginava que ainda houvesse tanto rancor esquerdista por aqui. Pois os órfãos do marxismo ainda vivem. E uma parte deles assombra as redações de nossa imprensa. O discurso fácil do ressentimento ainda comove alguém? Parece que sim.

Deplorar a Daslu não faz sentido, nem social nem economicamente falando. Que não venham agora os panfletários apelar para a injustiça social. Acaso haveria menos pobres se a Daslu não existisse? Ou será que, para essa gente, a sociedade justa é aquela em que todos, sem exceção, se hão de nivelar na mais completa miséria?

Esse é um discurso mais rancoroso que racional. Na verdade, é do contrário que se trata, ou seja, quanto mais Daslus existirem, menor será a penúria geral. Depois de Thorstein Veblen, no início do século passado, nenhum economista sério, no mundo todo, se preocupou em condenar o consumo suntuário. Ao contrário. Todos entendem que qualquer tipo de consumo – inclusive o de luxo – estimula o processo de criação de riquezas. Há mendigos e esquerdistas na França? Há. Mas nenhum deles cogita de fazer passeatas às portas da luxuosa Galeries Lafayette.

Existem sem-teto em Nova York? Existem, mas ninguém pensa em responsabilizar a Bloomingdale'' por isso. Esse ódio ao luxo é coisa de intelectual de país subdesenvolvido. Os dados desmentem qualquer raciocínio nesse sentido. A nova Daslu gera nada menos que 3 mil empregos diretos. É mais do que o governo federal conseguiu criar em dois anos e meio do seu festejado programa Primeiro Emprego. Ainda antes de inaugurada, a Daslu criou milhares de empregos na sua construção e instalação. Não houve dinheiro público no empreendimento. Ele foi bancado pela iniciativa privada, grande parte com capital estrangeiro. Não fosse a Daslu, milhões de dólares não teriam aportado no Brasil.

Uma vez funcionando, a loja continua a gerar riquezas para a sociedade. Quando alguém se dispõe a pagar caro por um calçado de luxo, esse dinheiro não vai para o lixo. Quase metade do montante é recolhida em forma de impostos municipais, estaduais e federais. A outra parte remunera os empregados do estabelecimento e os fornecedores.

O fabricante do calçado, com esse dinheiro, remunera, por sua vez, os seus funcionários. Estes despendem seus salários no comércio, remunerando, assim, o quitandeiro, o feirante e outros tantos. Se, porventura, o calçado não fosse vendido, todo o resto da cadeia ficaria sem auferir ganho algum. No caso presente, se não existisse a Daslu, com sua receita mensal de dezenas de milhões de reais, não existiriam os muitos milhares de empregos diretos e indiretos que ela proporciona.

Se a Daslu sonegou impostos, isso deve ser apurado, punido e o erário, devidamente ressarcido. Mas nada justifica a prisão de Eliana Tranchesi como se fosse uma criminosa comum.

Que ninguém se engane. Os apóstolos da miséria não salvam ninguém. Servem, quando muito, para aumentar, mais e mais, o contingente dos miseráveis. Que a Daslu pague o que eventualmente deve ao Fisco. Mas, feito isso, que finalmente a deixem em paz!

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