Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 20, 2005

LUÍS NASSIF Sou, mas quem não é

folha de s paulo

  Na coluna de quarta-feira passada, antecipei o que se pensava ser a estratégia de defesa do governo, no caso do "mensalão": convencer o ex-tesoureiro Delúbio Soares a admitir que recebeu recursos de caixa dois de empresas, os quais utilizou para financiamento de campanha, e que todos os partidos atuam dessa maneira.
O próprio Lula estava pessoalmente empenhado nesse trabalho de convencimento de Delúbio. A versão foi encampada por todos os envolvidos e reforçada pelo próprio presidente da República, na tal entrevista de Paris.
Aonde se quer chegar? Quer-se desmascarar a hipocrisia nacional, com um jogo de truco de alto risco, que não teria nenhum problema, não estivesse em jogo a estabilidade política do país.
Com a confissão de Lula, coloca-se o Executivo na linha de fogo. Espalham-se suspeitas sobre todo o sistema político brasileiro e apresenta-se apenas uma evidência: a confissão de que é, mas quem não é. Pensa que, com essa roleta-russa, desestimularia o açodamento dos adversários do governo.
O que conseguiu objetivamente foi ampliar o grau de exacerbação da opinião pública e passar a sensação de que qualquer preço vale para preservar o mandato.
É conhecido o autismo a que Brasília submete os homens do poder. Mas o que Lula está fazendo com um dos grandes ativos nacionais, que é a imagem de Lula?
Jogou os companheiros ao mar. Agiu corretamente, a governabilidade é mais relevante. Descartou o PT, como se as transformações do partido tivessem ocorrido só nos últimos três anos, depois que o "pai Lula" desmamou o filho PT. E arrematou com essa jóia de que "todo mundo é".
Há duas maneiras de desmascarar a hipocrisia. Quando acompanhada de um sacrifício ritual, é heroísmo. Renúncia, proposta radical de mudança política, tiro no ouvido e outros gestos criaram mártires pela vida política afora.
Sem sacrifícios, vira esperteza. Troca-se a hipocrisia pelo cinismo, a tragédia pela falsa astúcia. E como fica o país, e como fica o povo com seus símbolos?
Passo a palavra ao leitor Douglas Bykoff:
"Infelizmente, acho que você está errado ao achar que essa crise política pode servir de trampolim para uma melhora do país. Acho que acontecerá justamente o contrário, e a culpa será do presidente Lula. Isso porque, com o seu carisma e com o seu comportamento, ele está rebaixando a moralidade política e a expectativa da população a níveis jamais vistos".
"Não que ele faça ou deixe de fazer diferentemente dos outros que o antecederam. Não estou fazendo juízo de valor. O meu pessimismo é que as "expectativas" dos brasileiros em termos de moralidade estão se rebaixando em razão da atuação do PT e do presidente Lula."
"Se até o governo Lula, que é uma fonte de virtude, é corrupto, então a corrupção é uma fatalidade inevitável na vida brasileira. Os petistas, na sua ânsia de se defender, estão rebaixando as expectativas morais do brasileiro para o nível mais baixo e de onde não vamos nunca mais nos recuperar."

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