O Estado de S Paulo
Zumbis, surdos-mudos e cegos
A entrevista ridícula que Lula deu na França para uma patricinha amadora, visivelmente encomendada para furar o jornalismo profissional, já fazia parte desse conluio de enrolações. Lula lançou a palavra de ordem, combinada com seus prepostos no Brasil: "Vamos confessar crimes menores, para fugir do principal, vamos admitir ter errado na utilização de caixa 2 de campanha, para escapar da verdade do saque ao dinheiro público nas estatais, dos acordos com empresários e do mensalão" - assim como um marido culpado confessa à mulher uma pequena sacanagem para fugir do batom (ou dos 100 mil dólares) na cueca. Com sua entrevista, Lula burrissimamente se uniu a Valério e Delúbio e rompeu o cordão que ainda o separava do PT. Agora, vemos que a simbiose partido/governo é patente, inegável. A vergonhosa entrevista de Gushiken ao Jornal da Globo também denota a mesma estratégia. Ele não respondeu a nenhuma pergunta de William e Christiane, com sua impassível cara oriental, num escandaloso desafio aos mais baixos QIs da inteligência humana.
No depoimento ontem na CPI, Silvio seguiu a mesma "linha justa" de Lula e Delúbio, mas acrescentou um plus histriônico: a baba na gravata, a cara de pateta. Em tribunais, os suspeitos costumam se declarar inocentes. Tudo bem. Mas Silvio e PT se declaram "débeis mentais". Ou acham que nós somos. Silvio Pereira negou tudo e só faltava dizer: "Eu sou um imbecil, eu nunca vi nada, eu nunca falei nada, eu não conhecia ninguém, e eu era apenas um humilde (sic) secretário-geral do PT". Aliás, é incrível que um homem ignorante como ele, para quem os "s" não existem, possa ter ocupado uma função tão alta no "partido do futuro". Silvio, com seu patrimônio muito além dos R$ 9 mil que ganha, com land rovers e casa em Ilhabela, disse que nunca soube de empréstimos do PT em bancos, que tudo era função do Delúbio (atual bordão "respiratório"), que não sabia de empréstimos de R$ 90 milhões, que recebeu empresários apenas por gentileza, mas nunca para discutir cargos ou interesses, que os empresários iam conversar sobre tendências ideológicas ou sobre marxismo ou sobre fofocas. Silvio chegou a negar que tenha influído nas nomeações de seu irmão e irmã. E e a dizer que nem Dirceu nem Genoino, nem Mercadante, nem Tarso, ninguém sabia de nada do que ele fazia. Ninguém. Só faltou dizer: "Somos um partido de zumbis surdos-mudos e cegos".
Como acreditar que um sujeito como Valério fosse arranjar US$ 30 milhões para o PT sem nenhuma vantagem, sem que ninguém soubesse de nada? A mentira do PT/governo está chegando a níveis insuportáveis, e os crimes que se adivinham sob o avesso desse avesso são de tamanho equivalente à grande mentira inicial, como disse Lula no ato falho parisiense: "Quando a gente começa a mentir, não pára mais".
Outra coisa que essa CPI está expondo é a incrível discrepância entre o PT real, primitivo, ignorante e trapalhão, com aquele PT épico, heróico e ético que os intelectuais e "militantes imaginários" inventaram. A cada depoimento fica mais vergonhoso que essa gente esteja no poder. O tempo todo, todos tentam desvincular o PT do governo, e a cada negativa essa ligação se aprofunda, esse adultério fica mais evidente. Todas as perguntas tocam em alguma verdade e todas as respostas são mentiras descaradas. O último recurso é sempre falar em falta de "provas", mas os juristas sabem que as pistas que se fecham, as confissões que se contradizem são também provas "indiciárias" insofismáveis. Só resta à oposição e aos inquisidores comer pelas bordas, adivinhar a verdade pelas negativas, descobrir o "sim" através dos "nãos" obsessivos.
O País está diante de uma muralha de mentiras. A cada dia, a situação do Lula fica mais grave. A cada dia, fica mais difícil salvá-lo da enchente. E não por algum novo vídeo escandaloso ou algo assim. Não. A incriminação geral dos petistas e de Lula é obra deles mesmos, de suas trapalhadas, suas desculpas esfarrapadas, mais esfarrapadas que os miseráveis em nome dos quais armaram essa chanchada trágica.
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