Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 22, 2005

LUÍS NASSIF Não vai dar certo

Folha de S Paulo
 O governo Lula não vai terminar bem. A estratégia de defesa adotada, explicitada por Lula na infausta entrevista de Paris e pelos depoimentos de Silvio Pereira e Delúbio Soares à CPI, já levou a um confronto sem volta com a opinião pública. Na melhor das hipóteses -para Lula-, ele conseguirá chegar ao final do mandato em clima de guerra. Na pior, ele cai. Em qualquer uma delas, vai ser deflagrada uma guerra política sem precedentes.
A estratégia adotada foi kamikaze. Primeiro, descaracterize-se qualquer aspecto penal da história. Com a crise confinada ao campo político, o governo vai para a guerra, escudado nos índices de popularidade de Lula.
Em muitas circunstâncias, de vida ou da política, a hipocrisia é fator de equilíbrio e de governabilidade, permitindo fechar os olhos por algum tempo a situações inevitáveis. Mas, quando é desmascarada, não há como conviver mais com a situação anterior. Esse é o drama brasileiro. Para descaracterizar aspectos penais, a estratégia expôs as vísceras do governo, do seu partido e dos demais partidos políticos, elevou a indignação pública a níveis de exacerbação inéditos -porque contaminou oposição, militantes do próprio PT e toda a classe média informada. Despertou o apetite do tigre.
Nessa estratégia, não se levou em conta a dinâmica da opinião pública. Trata-se de um bicho caprichoso, que mal completou duas décadas de vida no país. Ela até admite a hipocrisia, jamais a onipotência. Em qualquer país democrático, basta aparecer uma figura pública onipotente para se transformar na bola da vez. Esse movimento é a própria essência da democracia, que se sustenta em sistemas de pesos e contrapesos. Foi a arrogância de Fernando Collor que o condenou, assim como o ar de superioridade de Fernando Henrique Cardoso que acirrou em muitos setores um ódio desproporcional contra ele.
É esse o clima que envolveu Lula, depois dos depoimentos espertos de Silvio Pereira e Delúbio Soares e da entrevista esperta em Paris: a comprovação do sentimento de onipotência, a declaração de guerra.
Ao enveredar por esse caminho, Lula imaginou aquele sindicalista iletrado que conseguiu sozinho enfrentar o regime militar. Pensou em todas as assembléias que conquistou no grito, em sua longa trajetória, que lhe permitiu chegar à Presidência da República. Alguém que conquistou tudo isso sozinho vai se inibir agora em entrar em um jogo tendo o porrete da Presidência na mão?
Vai levar algum tempo para entender os caprichos da história e a maré das circunstâncias políticas, que podem tornar um operário tão forte quanto um presidente-general, e um presidente tão frágil quanto um operário não-sindicalizado.

BMG e aposentados
A exclusividade do BMG na concessão de crédito aos aposentados foi por meio de procedimentos burocráticos do Ministério da Previdência, que demorava meses para aprovar cada pedido de autorização dos bancos. Esse jogo foi praticado de forma escancarada na gestão Amir Lando e prosseguiu até poucas semanas atrás.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog