Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 22, 2005

CLÓVIS ROSSI O abraço da morte

Folha de S Paulo
SÃO PAULO - Dizia-se antigamente que à mulher de César não basta ser honesta; tem que parecer honesta também.
No Brasil moderno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu subverter até essa regrinha básica da decência política: atou-se, com sua entrevista de Paris, a gente que pode até ser honesta, mas não parece nem um pouquinho.
Viu-se, no depoimento de Delúbio Soares anteontem, o desespero de alguns petistas tidos como sérios, como Saturnino Braga (RJ), que não só duvidava de cada afirmação do tesoureiro licenciado do PT como dizia, apoplético, que a estratégia de defesa de Delúbio era insustentável e acabaria por atingir o presidente da República, mais cedo que tarde.
Saturnino tem vastíssima quilometragem rodada nos caminhos da política. Pode, portanto, ter toda a razão. Mas temo que, mesmo que esteja certo na sua previsão, não haja outra possibilidade aberta para o PT ou para o presidente.
Não faz muito, sugeri a "saída Clinton". O presidente vai à TV, admite que disse uma ou outra mentira, pede perdão e seja o que Deus quiser. Nem sei se funcionaria, é bom deixar claro. Mas o que mais Lula pode fazer? Agora, aliás, a "saída Clinton" pode ter sido bloqueada pela entrevista em Paris, na qual o presidente diz que o PT só fez o que todos sistematicamente fazem. Ou seja, aderiu à maracutaia.
O problema dessa linha de defesa é óbvio: primitivos como são, os dirigentes do PT responsáveis pela maracutaia deixaram todas as digitais nos cofres e malas que utilizaram. Os outros partidos, se de fato usam ou usaram caixa dois, como é bem provável, foram mais hábeis, o que torna difícil incriminá-los.
Ou, objetivamente: a tática "todo mundo rouba, eu também" só tem réus, por enquanto, do PT ou da base aliada. Gente, como dito no início, que pode até ser honesta, mas nunca pareceu sê-lo. É com eles que Lula vai ficar abraçado?

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