folha de s paulo
Luiz Gushiken , ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, entra em contato com a coluna munido de um fax da Prefeitura de Indaiatuba, a fim de se defender das acusações de que vem sendo alvo nos últimos dias -apontando para o crescimento exponencial da Globalprev, empresa criada por ele em 1999, depois que se afastou, em outubro de 2002.
As primeiras reportagens se basearam nos dados da prefeitura, indicando faturamento inexpressivo até 2002. Ontem, a prefeitura admitiu que errou os números.
Segundo dados de Gushiken, o ritmo de crescimento da empresa foi vigoroso desde o seu nascimento -saltando de R$ 48 mil para R$ 442 mil, em 2000, e R$ 738 mil, em 2001. Caiu em 2002 -para R$ 645 mil-, devido a dois fatores: um enfarte que sofreu e uma encomenda feita pelo Ministério da Previdência, do governo FHC, que reduziu o faturamento daquele ano, mas que explicaria o sucesso dos anos seguintes.
Quando o modelo de "benefícios assegurados" (no qual benefícios são garantidos independentemente dos resultados do fundo) dos fundos de pensão entrou em crise, havia a convicção geral de que precisaria ser substituído pelo modelo de capitalização ou de contribuição definida. A Globalprev se especializou em cursos nessa área, de esclarecimento de trabalhadores, fundos e associações. Entre seus clientes, estavam funcionários do próprio Ministério da Previdência.
Quando soube disso, o então ministro da Previdência, José Cechin -ainda no governo FHC-, contratou a Globalprev para preparar um trabalho trocando em miúdos as questões atuariais. Nasceu dali o livro "Regime Próprio de Previdência dos Servidores", que, completado em julho de 2002, ajudou a cacifar os cursos posteriores. Quando deixou a Globalprev, já estava encaminhado um acordo de parceria com a Pricewaterhouse, para levar os cursos para outras empresas. Esse processo, diz Gushiken, explicaria o crescimento da Globalprev, cujo faturamento saltou para R$ 1 milhão em 2003 e R$ 1,9 milhão em 2004.
No filé mignon do cálculo atuarial, a empresa possui 0,6% do mercado, diz ele, graças a um contrato de R$ 486 mil com o fundo Petros, entre janeiro de 2003 e julho de 2005. As primeiras denúncias contra a empresa, aliás, partiram da Associação dos Engenheiros da Petrobras, que não queria a mudança do sistema de benefícios assegurados. Com a Previ, Gushiken informa que a Globalprev fechou quatro cursos de R$ 44.800,00.
Ele admite que Lula ficou chateado quando leu as primeiras manchetes dos jornais. Mas aceitou as explicações prontamente. A resistência maior, para ficar no governo, foi de seus filhos, de 21, 20 e 17 anos, que estão sofrendo as pressões maiores com as denúncias.
Na sexta passada, Gushiken colocou a decisão nas mãos deles. Eles autorizaram o pai a ficar no governo.
Há um emaranhado a ser deslindado nos contratos do governo com agências de publicidade. No caso Globalprev, as explicações e os números guardam lógica entre si.
Entrevista:O Estado inteligente
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