Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 12, 2005

JANIO DE FREITAS As rolhas na CPI

folha de s paulo

  A queda de José Genoino, chamada de renúncia por seus amigos e amigas na mídia, levou a um ato que enriqueceu muito os anais da grande farsa que é o interesse dos poderes pela educação no Brasil. Tirar o ministro da Educação, que nem sairia na "reforma ministerial", para fazê-lo de rolha no rombo que esvai a moralidade do PT, submete o governo a uma condenação irrecorrível, e Lula à negação absoluta da discurseira que faz, mundo afora, pela educação. O próprio Tarso Genro pediu mais 15 dias no ministério, para concluir o plano de reforma em que trabalhava. Ora, é só uma medida pela educação, enquanto a outra, ah, a outra é pelo PT.
Os efeitos imediatos da presença de Tarso Genro são, no âmbito do PT, essencialmente os que decorrem da saída de José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira, ou seja, valem pela saída e não pela entrada. Já quanto aos reflexos que o partido do governo projeta para fora de si, será na CPI que se notará logo se a presidência petista de Tarso Genro traz alguma contribuição efetiva.
O PT é o centro da crise. Não foram as denúncias de Roberto Jefferson que a criaram. Foi a incapacidade dos petistas, já nem se diga de desmontá-las, mas, ao menos, de torná-las mais duvidosas do que espantosas. Incapacidade forçada, à margem de possíveis insuficiências de parlamentares petistas, pelo emudecimento acovardado dos atingidos na cúpula petista. José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira deixaram seus companheiros defensores desarmados e ao relento, para escolherem por si entre a grandeza e o ridículo.
O ridículo venceu sem resistência. O PT, ou ex-PT, adotou o papel de resistência à busca dos fatos, das responsabilidades, dos fins e seus sentidos. Um reconhecimento inequívoco de que todos os petistas, na CPI, sabem que riscos estão implícitos em cada pergunta feita com o propósito de desvendar e entender. Nem um ou outro aparentemente mais desconfortável nessa pequenez, como o deputado José Eduardo Cardoso, conseguiu que os malabarismos do seu talento disfarçassem os propósitos, que, se não aplicados de fato à investigação, acobertadores são. E não há discurso ou espetáculos de falta de compostura, tão ao gosto da senadora Ideli Salvatti, que prove o oposto.
Na CPI está o teste que dirá quem é Tarso Genro e, talvez até, o que poderá ser. Até agora, os afastados do PT regeram o papel antiético e antidemocrático dos inquiridores petistas. Com a mudança no comando partidário, o ex-PT vai começar a lembrar-se do PT, como diz Tarso Genro ser o seu objetivo, e portar-se com constrangimento mas com dignidade na CPI? Se não, Tarso Genro terá aceitado que sua missão inclua também certos acobertamentos, até hoje não esperados dele. Então, a mudança terá sido mais uma etapa da derrocada que pôs o PT na causa e no centro da crise.

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