Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 21, 2005

Lula ataca Justiça e deixa franceses perplexos

 
Em almoço fechado, na visita a Paris, Lula disse que no Brasil há muita burocracia "sem que se resolva nada"
 O Estado de S Paulo

Reali Júnior Correspondente PARIS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou perplexos alguns empresários franceses durante almoço, sem a presença da imprensa, organizado pelo Medef, o Movimento dos Empresários Franceses, na semana passada, em Paris. O motivo foram as críticas de Lula às reuniões do G-8 e à Justiça brasileira, ao responder a uma pergunta sobre a posição dos Estados Unidos contra a assinatura dos acordos de Kyoto, manifestada durante reunião na Escócia.

Outro motivo foram as divergências manifestadas por dois de seus ministros, Celso Amorim (Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), sobre a política brasileira junto ao Mercosul e ao seu principal parceiro regional, a Argentina.

Normalmente, esses almoços do Medef são abertos à imprensa, mas desta vez, a pedido da diplomacia brasileira, o acesso foi vedado. Lula, pretendendo fazer graça , comparou os acordos sobre meio ambiente à burocracia e a lentidão do Judiciário. "Essa história de assinar papéis parece a Justiça brasileira. Não adianta nada ficar assinando papéis, colocando uns sobre os outros, mas sem que se resolva nada", disse, levando os empresários ao riso.

Na avaliação de alguns dos presentes, Lula prestou um mau serviço à Justiça brasileira e a seu governo, pois a lentidão do sistema judiciário constitui uma das maiores críticas feitas pelas empresas estrangeiras instaladas no Brasil, desestimulando novos investimentos.

DIVERGÊNCIAS

Só uma semana depois do almoço, no restaurante Pré Catalan, vieram à tona outras revelações feitas aos empresários, sobre divergências entre Amorim e Furlan sobre a Argentina. Lula transferiu uma pergunta sobre esse tema para que os dois ministros respondessem.

Amorim lembrou que, se o presidente passou a resposta aos ministros, é porque sabia das divergências entre os dois. E defendeu a tese de que o País deve comprar mais da Argentina. Já Furlan lembrou que tem origem na iniciativa privada e vem de uma empresa exportadora, convencido de que, se o Brasil vende mais, é porque tem sido mais competente. A seu ver, os argentinos é que devem procurar vender mais.

Alguns empresários brasileiros presentes consideraram que esse não era o foro ideal para o governo brasileiro revelar suas divergências internas sobre a estratégia em relação a um parceiro tão delicado como a Argentina.

Furlan tentou esfriar o episódio, dizendo que as relações com a Argentina são globalmente positivas e os problemas constituem uma pequena unha encravada.

Os empresários deixaram o famoso restaurante gastronômico do Bois de Boulogne convencidos de que o presidente Lula está precisando, urgentemente, afinar os instrumentos de sua orquestra.

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