"Um dos temas da última pesquisa CNT/Sensus foi o financiamento público das campanhas eleitorais.
O assunto está na ordem do dia e consta da reforma política que está tramitando na Câmara dos Deputados.
A esta altura, todo mundo já sabe que uma das explicações para a roubalheira generalizada que está sendo investigada nos vários inquéritos instalados nas comissões do Congresso, na Corregedoria Geral da União e na Polícia Federal é a drenagem de recursos, ou de empresas privadas ou de empresas públicas, para as caixinhas de campanha dos políticos.
As campanhas eleitorais brasileiras são excessivamente longas e excessivamente caras. Gratuito, só o horário eleitoral no rádio e na TV. Gratuito para eles, porque nós pagamos.
Mas os marqueteiros, assessorias, produção do programa de rádio e TV, showmícios pelo país afora, jatinhos alugados, carros de som, tudo isto custa uma fortuna. Sem contar camisetas, santinhos, faixas, adesivos, brindes e toda a parafernália que cerca uma eleição.
Nos últimos dias, o país vem assistindo, estarrecido, a um mar de dinheiro sendo encontrado dentro de peças íntimas, em maletas, malas e malões. Até mesmo aviões cheios de dinheiro têm sido apanhados.
Tudo isto reforça a ilusão de que o financiamento de campanhas exclusivamente com recursos públicos batarearia as campanhas, acabaria com o caixa 2. Em suma, serviria para moralizar o processo eleitoral.
Daí por que os parlamentares decidiram aprovar o financiamento público. Os recursos seriam divididos assim: 85% para os partidos, de acordo com as bancadas eleitas em 2002; 14% divididos entre todos os partidos com representação na Câmara e 1% entre todos os partidos com registro no TSE. O resultado daria cerca de sete reais por eleitor.
Bom à beça, né não? Pois olhem, a sociedade odiou a idéia. Na Pesquisa CNT/Sensus, 72,6% dos entrevistados são contra o financiamento público, enquanto apenas 16,4% são a favor.
Num país com tremendas carências, onde falta tudo: emprego, saúde, habitação, saneamento, transporte de massa, entre outras conquistas da civilização, utilizar dinheiro do contribuinte para financiar campanhas políticas foi considerada uma bofetada na sociedade brasileira, já de língua de fora tendo que arcar com a maior carga de impostos do mundo.
Deve existir uma maneira de disciplinar as doações privadas de recursos aos candidatos, sem que se sacrifique ainda mais esta população já tão expoliada. Aumentar a fiscalização e jogar mais luz sobre o financiamento de campanhas parecem ser soluções mais sensatas. Pelo menos, é este o recado que a sociedade está enviando aos políticos."
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