Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 07, 2005

JANIO DE FREITAS Inutilidades

folha de s paulo

  A primeira parte da "reforma" ministerial é pobremente frutificante: foram trocados três ananases por três abacaxis. Ou vice-versa.
O resultado prático da entrega de três ministérios ao PMDB governista, a pretexto de fortalecer o governo com adesões peemedebistas na Câmara, é precisamente nenhum. Lula colheu os novos ministros no PMDB já governista. Por quê e para quê? Talvez só para dar a medida da tonteira em que está a cúpula do governo.
Tão inútil assim, pelo menos até que já durara 11 horas, só a sessão da CPI dos Correios destinada ao interrogatório de Marcos Valério de Souza, dado pelo deputado Roberto Jefferson como abastecedor monetário do "mensalão". Se reduzidas às intervenções sérias dos parlamentares, as 11 horas se reduziriam para hora e meia, duas no máximo.
A imensa audiência que tem acompanhado, no país todo, as sessões da CPI teve, ontem, um espetáculo nada divertido, mas muito didático. A maioria dos integrantes da CPI mostrou à grande audiência a desordem, o desrespeito às regras e aos colegas, o desinteresse pelo interesse público, que se instalam com tanta facilidade na Câmara e a assemelham, com freqüência, a um recreio de adolescentes badernosos.
Poucos são capazes de respeitar o tempo de intervenção que lhes cabe. Em parte, sem dúvida, pela dificuldade de desenvolver uma exposição lógica nos 15 minutos disponíveis. Na maior parte, porém, é a predominância da discurseira exibicionista, plantar o rosto na TV e a voz no rádio, em um exagero de ocupação inútil do tempo, que se torna um desaforo para com os cidadãos ansiosos por uma CPI eficaz e respeitável.
Andou por meia-dúzia o número de parlamentares que tiveram a compostura de cumprir com objetividade e competência o seu dever inquiridor, seguindo-se a uma breve introdução. A colheita do interrogatório correspondeu a esse pequeno número. E em termos. Porque a colheita foi quase toda por inferir alguma coisa, a partir da inviolável prática de evasivas e negativas do depoente. No que foi, aliás, muito ajudado por parlamentares do PT, que fizeram o tempo passar com discurseiras infantis e indignações ridículas. Até foi pena que Jorge Bittar, PT-RJ, tivesse que calar, quando já estava tão perto de demonstrar que Valério trabalha com prejuízo para o governo.
Mas na desconsideração com os cidadãos ouvintes/espectadores encontra-se uma boa sugestão de voto. No sentido de eliminar, desde já, a possibilidade de dá-lo aos abusadores.

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