folha de s paulo
A natureza das denúncias do deputado Roberto Jefferson mudou desde sua mais recente entrevista a Renata Lo Prete, na Folha, e do seu depoimento à CPI dos Correios, ambos quinta-feira passada. A mudança passou em branco, só merecendo maior atenção, na nova denúncia de Roberto Jefferson, o aparecimento de mais uma estatal, Furnas, entre as figurantes no escândalo. Mas o motivo da inclusão faz avançar muito a gravidade das denúncias.
Até àquela altura, toda a movimentação de dinheiro referida por Roberto Jefferson, com parlamentares e partidos como beneficiários, era proveniente de empresas privadas, fosse como doação ou como remuneração por favorecimentos. O caso de Furnas, ao que Roberto Jefferson narrou na entrevista e reiterou no depoimento, é de repasse de R$ 3 milhões, a cada mês, procedentes do que seria "uma sobra" criada nas contas de Furnas.
As novas denúncias, portanto, não só introduzem mais uma estatal, como passam do uso de dinheiro privado para o desvio de dinheiro do Estado. O que seria corrupção política, envolvendo integrantes do PT, PP, PL e PTB, sobe de status com o primeiro envolvimento direto do governo propriamente dito.
O dinheiro privado não é atenuante, mas o dinheiro público é agravante.
Se as denúncias avançam em gravidade e em áreas atingidas, debitem-se ao comentarismo governista as afirmações de que Lula também começou, afinal, a avançar com reações. Será? O afastamento de diretores de Furnas, no dia mesmo em que atingidos por Roberto Jefferson; a oferta de um pedaço do governo ao PMDB em troca de ajuda urgente; e a recauchutagem de velhas regras anticorrupção, para nem entrar no afastamento forçado do todo-poderoso José Dirceu, são recuos, e não avanços, em relação à atitude anterior do Lula inexpugnável: "Olha a minha cara e vê se eu estou preocupado com isso". Recuo benfazejo, mas recuo, está na cara.
Recuo sem cerimônia, por muitos tomado como sintomático, fazem os hierarcas do PT. José Dirceu voltaria "ao Congresso para defender a honra e o governo". Voltou, fez uma fala inaugural insossa, e, cada vez mais acusado, só reapareceu para adiar, em carta à Folha, "os esclarecimentos necessários" até o "momento oportuno e o foro adequado". Ao que se saiba, para deputado não há foro mais adequado que a Câmara. Delúbio Soares, Silvio Pereira e Marcelo Sereno, convidados pela Comissão de Sindicância da Câmara, acharam mais prudente dar o bolo que encarar umas perguntinhas. E José Genoino, indagado três vezes por Heródoto Barbeiro, na CBN, se aceitaria acareação com Roberto Jefferson, fugiu não só da possível acareação, mas até da pergunta.
Não se sabe o quanto são verdadeiras as verdades de Roberto Jefferson, nem até onde vão. São avalizadas, porém, pelos deputados e senadores do PT, ainda mais que pelas constatações da ligação petista e da dinheirama movimentada pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Acuados e às vezes histéricos, os parlamentares do PT só se empenham em evitar investigações, chegando à indignidade de se bater ferozmente contra a quebra dos sigilos financeiros de Marcos Valério. Foi a associação explícita aos indícios de corrupção grossa e até lavagem de dinheiro, segundo investigação da Polícia Federal nas pistas do publicitário.
Nisso temos mais uma das surpresas que, à falta das prometidas mudanças, o atual governo não se cansa de proporcionar: a dissensão entre o PT e ninguém menos que o seu fundador. Dirigentes e parlamentares petistas contra investigar corrupção, Lula aderindo, enfim, à ansiedade geral de vê-la investigada "doa a quem doer". Entre esses novos adversários, no entanto, os dirigentes e parlamentares sabem melhor o que as temidas investigações ameaçam.
Entrevista:O Estado inteligente
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