ELIANE CANTANHÊDE :Guerra de guerrilha

folha de s paulo
 BRASÍLIA - O governo quer atrair a oposição, muito especialmente o PSDB. Ou por bem ou por mal.
Por bem: Palocci, que tenta pairar acima da crise, vai dar reajuste para os militares e usar todos os recursos (nos dois sentidos) para reduzir a frente inimiga. Conversou com Agripino Maia (PFL), ACM (PFL do B) e Tasso Jereissati (PSDB).
Por mal: de volta à Câmara, José Dirceu adverte que não interessa ao PSDB e ao PFL forçar apuração de caixa dois de campanha, tráfico de influência e compra de votos. Se for para o buraco, o PT não vai sozinho.
Acima do bem e do mal, FHC sugere a Lula abrir mão da reeleição para unir as forças políticas em torno de grandes projetos nacionais e ter estabilidade. Não é para valer, mas mostra que há espaço para conversar.
O fato é que a situação é grave, o governo está nitidamente atordoado e a principal preocupação dos dois lados -aliás, de todos os lados- é preservar Lula, que tenta recuperar a iniciativa política com uma reforma ministerial que amanse a forte bancada do PMDB no Congresso.
É melhor do que nada, mas é pouco para garantir sossego em fase de tantas denúncias. Com o PMDB dividido e pouco confiável, o PTB no ataque, o PP e o PL no banco dos réus e o PT pulverizado, o que realmente importa é a articulação dos caciques.
Palocci e Dirceu tiveram boa conversa na semana passada. A bola está com Palocci, para tentar um acordo com o PSDB e com o PFL "por bem". Mas Dirceu está em fase de reaquecimento. Se Palocci fracassar, vem aí uma guerra de guerrilhas.
O deputado Roberto Brant (MG), que é do PFL, mas vem da centro-esquerda, explica o que significa: "Essa gente tem alma de guerrilheiro e não vai em bando, como carneirinho, para o matadouro. Se é para morrer, morre atirando". É sangue.
Tomara que o acerto governo-oposição seja "por bem". Se é que os fatos vão deixar. E desde que não seja para esconder a sujeira, mas para varrê-la com responsabilidade.