Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 03, 2005

Filho de Lula recebia salário do PT por "serviço à distância"

folha de s paulo
Filho de Lula recebia salário do PT por "serviço à distância"
O estudante, que ganhava R$ 1.522 mensais desde 2002, diz na internet que "continua vagabundeando"
 LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

Poucos funcionários do diretório estadual do PT de São Paulo sabem, mas até duas semanas atrás eles tinham como colega, pelo menos na folha de pagamento, um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O estudante de publicidade Sandro Luís Lula da Silva, 26, era contratado pelo Diretório do PT paulista desde 2002, mas prestava "serviço à distância", segundo informou o partido.
Sandro é o primeiro filho de Lula com Marisa Letícia. Antes do casamento, Lula foi pai de Lurian. Marisa é mãe de Marcos Cláudio, criado pelo presidente desde a primeira infância.

À distância
O filho de Lula foi contratado pelo diretório do PT em São Paulo como assistente administrativo no dia 15 de maio de 2002, ano da eleição presidencial. O salário dele era de R$ 1.522.
Depois que o pai assumiu a Presidência -afirmou a assessoria do PT paulista -, Sandro passou a "prestar serviço de informática à distância", da casa dele, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). A sede estadual fica na área central da capital paulista.
Esta, pelo menos, foi a última versão apresentada pelo PT paulista para tentar explicar o fato de um filho de presidente da República ser tão desconhecido dentro do diretório -oito funcionários disseram à reportagem nunca terem visto Sandro no prédio.
Outras duas respostas foram dadas pelo partido, todas na sexta-feira. Num primeiro momento, assessores disseram que ele nunca havia trabalhado no diretório. Depois, que Sandro deixou de ser funcionário em meados de 2002. E, finalmente, que ele foi desligado há cerca de "uma ou duas semanas".

Em branco
A reportagem teve acesso ao relatório de despesas mensais do PT de São Paulo e ao livro de empregados, ambos de 2003.
O documento contábil registra os depósitos mensais na conta corrente de "Sandro L. Lula da Silva" no valor de R$ 1.522. O livro de empregados, por sua vez, guarda a ficha de contratação de Sandro, à folha 77, com foto, dados pessoais e a assinatura dele.
Ao contrário das fichas de outros 70 funcionários contratados pelo diretório do PT paulista, na de Sandro o espaço reservado para o preenchimento do horário de início e de término da jornada de trabalho foi deixado em branco -o mesmo foi feito também com a ficha de Antônio Palocci Filho, dirigente petista e hoje à frente do Ministério da da Fazenda.

Informática
Sandro e os irmãos são aficionados por informática, games, Orkut (maior comunidade virtual da internet) e blogs. Este último já rendeu dissabores à família Lula.
Em outubro do ano passado, a Folha publicou reportagem sobre dois blogs criados pelos filhos de Lula (Marcos Cláudio e Luís Cláudio), que revelavam a intimidade do casal presidencial em festas.
Depois, fotos do filho caçula, Luís Cláudio, que passou férias no Palácio da Alvorada ao lado dos amigos, também foram parar na comunidade do Orkut.
Sandro, no entanto, continua adepto da comunidade virtual, na qual se apresenta sob o pseudônimo de "spiderman" (homem-aranha). Ao falar de sua rotina para amigos, ele recorre à mesma explicação: diz que "continua vagabundeando e tentando terminar a faculdade" e que tem "fingido que trabalha um pouco".
Sandro recebe muitas mensagens de amigos que querem saber se ele abandonou a faculdade.

Petista diz que filho de Lula "trabalha, e muito", mas em casa DA REPORTAGEM LOCAL

DO PAINEL

O presidente estadual do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, afirmou que Sandro Luís Lula da Silva, filho do presidente Lula, "trabalha, e trabalha muito, mas trabalha à distância".
Frateschi disse que Sandro deixou de integrar o quadro do diretório apenas porque pediu, mas que pensa em recontratá-lo por meio de um contrato terceirizado.
"Sandro é um rapaz muito tímido, um cara muito legal. Entende tudo de informática e sempre me ajuda muito", afirmou o presidente do PT paulista.
Uma das ajudas, disse Frateschi, são os relatórios de viagem preparados por Sandro. "Sempre que vou a um município, ele me manda todos os dados, as coligações locais, população, tudo o que eu preciso para exercer minha função de dirigente."

Segurança
Frateschi disse que, após o assassinato do segurança de Sandro, em 2003, considerou mais seguro ele trabalhar em casa.
Em junho daquele ano, o subtenente do Exército Alcir José Tomasi foi morto por dois assaltantes em Santo André, município da Grande São Paulo, ao fazer a escolta de Sandro.
O filho do presidente visitava a namorada, Marlene. Ele não viu o incidente com o segurança.
"Ficamos preocupados e entendemos que seria a melhor solução [o trabalho à distância]. Esse menino é novo, trabalha direto no computador, com muita competência. É por isso que eu não queria que ele saísse do diretório."
Quanto ao fato de ele não ser conhecido pelos funcionários, o presidente estadual do PT, candidato à reeleição neste ano, disse que isso ocorre apenas com os que foram contratados há pouco tempo pelo diretório.
"Ele não ia todos os dias. Às vezes, aparecia um dia por semana, um dia por mês. Ele não precisa ir ao diretório para trabalhar. Trabalha na casa dele, até porque precisa apenas de um computador para realizar o serviço", afirmou Paulo Frateschi.

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