no mínimo
Ou os investigadores do mensalão tomam jeito, ou o Brasil vai consagrar mais uma safra de delinqüentes bonzinhos. Depois de assistir o bilionário Marcos Valério (suas empresas faturaram mais de R$ 1 bilhão em cinco anos) desfilar seu discurso de inocente por câmeras e inquéritos, o país vê Delúbio Soares confessar seu pecadilho: o PT "não contabilizou" alguns milhões de reais de verbas de campanha, mas fiquem tranqüilos, é tudo dinheiro limpo.
As CPIs, as polícias e os procuradores andam tão distraídos, que é bem capaz disso também empacar no disco arranhado da tal reforma política. A casa está pegando fogo e os moradores, já meio torrados, continuam discutindo a reforma do banheiro e o puxadinho da varanda. Enquanto isso, Delúbio aproveita para perpetrar seu lance insólito: confessar que operava no caixa dois e garantir que a origem do dinheiro eram empréstimos bancários perfeitamente legais.
Como alguém pode assegurar o DNA de um dinheiro que não foi contabilizado? Como admitir que na tal rubrica clandestina do PT, agora admitida pelo ex-tesoureiro, havia apenas os empréstimos que a imprensa descobriu? A confissão de Delúbio parece a de um marido adúltero que admite o caso extraconjugal, mas jura que só esteve duas vezes com a amante e nem foi tão bom assim.
Algumas perguntas que o Brasil, quando acordar da soneca, poderia fazer ao doutor Delúbio:
1. Se essas operações bancárias eram estritamente referentes ao partido e nada tinham a ver com o governo federal, por que os diretores dos dois bancos, exatamente o BMG e o Rural, foram apresentados por Marcos Valério – o avalista – ao então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, dentro do Palácio do Planalto? Coincidência?
2. Estabelecida esta relação, e dada a sua ligação estreita com Delúbio (seu homem no PT) e assídua com Valério (como testemunhou a secretária Karina), como pôde José Dirceu sequer ficar sabendo dos vários empréstimos milionários ao partido, como alega o ex-tesoureiro?
3. Por que o PT escolheu para avalista um publicitário cliente do governo federal (cujo patrimônio cresceu 60 vezes nos últimos três anos)?
4. Por que foi solicitado ao Banco Rural (e aceito por ele) que saques acima de R$ 100 mil, em dinheiro, pudessem ser feitos pelos destinatários apenas dando seus nomes, sem qualquer papel ou documento, apenas respaldados por fax enviado pelas empresas de Valério?
5. Por que Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT, tinha uma sala dentro do Palácio do Planalto onde recebia, junto com Delúbio, dirigentes de empresas estatais?
6. Seria também coincidência que os maiores fundos de pensão do país, dessas mesmas estatais, tenham passado a fazer investimentos altos em carteiras dos mesmos bancos Rural e BMG?
7. E o fato de Luiz Gushiken, há anos o encarregado no PT da relação com os fundos de pensão, ter-se tornado na Secretaria de Comunicação o grande avalista para as empresas de Valério ganharem contratos somando R$ 144 milhões no governo Lula? Outra coincidência, ou mais um parafuso no duto ligando empresas estatais ao PT, via Marcos Valério?
8. O dinheiro sacado pelo deputado José Janene (PP) na conta da agência de Valério no BMG (como mostrou o arquivo morto do banco) estaria entre as dívidas de campanha do PT com aliados?
9. Se era dívida de campanha, e não mensalão, por que foi sacado pelo líder da bancada, e não pelo tesoureiro ou mesmo pelo presidente do partido?
10. Por que as empresas de Valério aceitaram avalizar R$ 40 milhões em empréstimos a um partido em sérias dificuldades financeiras (como atesta a nova direção), com poucas chances de saldar a dívida a médio prazo?
É claro que o cálculo de Delúbio, assim como o de Valério, é embrulhar tudo numa fraudezinha de caixa dois eleitoral – o que lhes sairia quase de graça, diante do esquema bem mais criativo que aparentemente teriam operado. E que providência os investigadores anunciam? Promover uma acareação entre Delúbio e Valério! Os dois, a esta altura, devem estar rindo à toa. Logo eles, que não fizeram outra coisa ultimamente senão ensaiar sua nova versão para os milhões voadores, terão a chance de interpretar o dueto ao vivo. No mínimo deixarão Zezé di Camargo e Luciano, a dupla oficial, no chinelo.
Desembarcando dos devaneios da CPI, onde está a Polícia Federal que não dá uma blitz na sede do PT? Há uma confissão de caixa dois, por acaso os computadores do partido já foram apreendidos? Ou vai-se esperar Delúbio entregar espontaneamente toda a contabilidade clandestina? No país do grampo e dos arapongas, ninguém se interessa pelas conversas telefônicas de Delúbio Soares e José Dirceu?
Nem um grampinho nos vários celulares de Valério para desmontar de vez a mentirada? Na era da Internet, o Ministério Público, sempre tão diligente, não consegue caçar um mísero e-mail trocado entre os suspeitos? Onde está o raio-x das contas milionárias do publicitário? A CPI está dando um tempinho para que os bancos possam inventar extratos novinhos em folha?
Com a letargia do Congresso, os procuradores procurando (e não achando), a PF ocupada com a Daslu e os arapongas todos a serviço da causa de "transformação social" do companheiro Delúbio, talvez o resto dos brasileiros devesse fazer uma vaquinha para catar um detetive particular nos classificados, desses que investigam adultério. Costumam ser discretos e eficientes. E dão recibo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
julho
(532)
- Do foguetório ao velório Por Reinaldo Azevedo
- FHC diz que Lula virou a casaca
- DORA KRAMER A prateleira do pefelê
- Alberto Tamer Alca nunca existiu nem vai existir
- Editorial de O Estado de S Paulo Ética do compadrio
- LUÍS NASSIF A conta de R$ 3.000
- As elites e a sonegação JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
- Lula se tornou menor que a crise, diz Serra
- JANIO DE FREITAS A crise das ambições
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Responsabilidade e amor ...
- ELIANE CANTANHÊDE É hora de racionalidade
- CLÓVIS ROSSI Não é que era verdade?
- Editorial de A Folha de S Paulo DESENCANTO POLÍTICO
- FERREIRA GULLAR:Qual o desfecho?
- Editorial de O Globo Lição para o PT
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Não é por aí
- Miriam Leitão :Hora de explicar
- Merval Pereira Última instância e O imponderável
- AUGUSTO NUNES :A animada turnê do candidato
- Corrupção incessante atormenta a América Latina po...
- Blog Noblat Para administrar uma fortuna
- Diogo Mainardi Quero derrubar Lula
- Tales Alvarenga Erro tático
- Roberto Pompeu de Toledo Leoa de um lado, gata dis...
- Claudio de Moura Castro Educação baseada em evidência
- Dirceu volta para o centro da crise da Veja
- Ajudante de Dirceu estava autorizado a sacar no Ru...
- Até agora, só Roberto Jefferson disse a verdade VEJA
- O isolamento do presidente VEJA
- VEJA A crise incomoda, mas a economia está forte
- veja Novas suspeitas sobre Delúbio Soares
- VEJA -A Petrobras mentiu
- Editorial de O Estado de S Paulo A conspiração dos...
- DORA KRAMER O não dito pelo mal dito
- FERNANDO GABEIRA Notas de um pianista no Titanic
- Economia vulnerável GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES O acordão
- CLÓVIS ROSSI A pizza é inevitável
- Editorial de A Folha de S Paulo A SUPER-RECEITA
- Editorial de A Folha de S Paulo O PARTIDO DA ECONOMIA
- Zuenir Ventura O risco do cambalacho
- Miriam Leitão :Blindada ou não?
- A ordem é cobrar os cobradores
- Mas, apesar disso, o PSDB e o PFL continuam queren...
- Em defesa do PT Cesar Maia, O Globo
- Senhor presidente João Mellão Neto
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Novo fiasco dipl...
- Editorial de O Estado de S Paulo 'Erros', fatos e ...
- DORA KRAMER Um leve aroma de orégano no ar
- Lucia Hippolito :À espera do depoimento de José Di...
- LUÍS NASSIF Uma máquina de instabilidade
- ELIANE CANTANHÊDE Metralhadora giratória
- CLÓVIS ROSSI Socorro, Cherie
- Editorial de A Folha de S Paulo SINAIS DE "ACORDÃO"
- Editorial do JB Desculpas necessárias
- Villas-Bôas Corrêa A ladainha dos servidores da pá...
- Editorial de O Globo Acordo do bem
- Miriam Leitão :Apesar da crise
- Luiz Garcia A CPI e os bons modos
- Merval Pereira Torre de Babel
- DILEMA PETISTA por Denis Rosenfield
- Ricardo A. Setti Crise mostra o quanto Lula se ape...
- Um brasileiro com quem Lula preferiu não discutir ...
- Editorial de O Estado de S Paulo Do caixa 2 ao men...
- Que PT é esse? Orlando Fantazzini
- Alberto Tamer China se embaralha para dizer não
- DORA KRAMER Elenco de canastrões
- LUÍS NASSIF Uma questão de tributo
- PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. Antídoto contra a mudança
- JANIO DE FREITAS Questão de ordem
- Responsabilidade DENIS LERRER ROSENFIELD
- DEMÉTRIO MAGNOLI A ética de Lula e a nossa
- ELIANE CANTANHÊDE Caminho da roça
- CLÓVIS ROSSI Legalize-se a corrupção
- Editorial de A Folha de S Paulo PRISÃO TARDIA
- Lucia Hippolito :Uma desculpa de Delúbio
- Cora Ronai Não, o meu país não é o dos delúbios...
- Miriam Leitão Dinheiro sujo
- MERVAL PEREIRA Seleção natural
- AUGUSTO NUNES Tucanos pousam no grande pântano
- Villas-Bôas Corrêa- Lula não tem nada com o governo
- José Nêumanne'Rouba, mas lhe dá um bocadinho'
- Entre dois vexames Coluna de Arnaldo Jabor no Jorn...
- Zuenir Ventura Apenas um não
- Editorial de O Estado de S. Paulo As duas unanimid...
- Luiz Weiss O iogurte do senador e a "coisa da Hist...
- Nunca acusei Lula de nada, afirma FHC
- Editorial de O Estado de S Paulo Triste tradição
- Editorial de O Estado de S Paulo Lula sabe o que o...
- A mentira Denis Lerrer Rosenfield
- As duas faces da moeda Alcides Amaral
- LUÍS NASSIF O banqueiro e a CPI
- FERNANDO RODRIGUES Corrupção endêmica
- CLÓVIS ROSSI Os limites do pacto
- Editorial de A Folha de S Paulo O CONTEÚDO DAS CAIXAS
- Editorial de A Folha de S Paulo A CRISE E A ECONOMIA
- DORA KRAMER À imagem e semelhança
- Miriam Leitão :Mulher distraída
- Zuenir Ventura aindo da mala
- Merval Pereira Vários tipos de joio
-
▼
julho
(532)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário