Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 09, 2005

Fundos estatais aplicaram milhões no BMG e no Rural

veja

Uma coincidência e tanto

Banco Rural e BMG ganham espaço
nos investimentos dos fundos de
pensão da Petrobras e de Furnas


Lucila Soares

 

Dida Sampaio/AE
LUIZ GUSHIKEN
Relações antigas e próximas com os fundos de pensão de estatais

É conhecida a estreita ligação do governo Lula com os fundos de pensão de estatais. O presidente da Petros e o da Previ, os dois maiores, são indicações do ministro Luiz Gushiken, que possui larga convivência profissional e política com as fundações de previdência complementar. E Marcelo Sereno, ex-braço-direito do ex-ministro José Dirceu, hoje secretário de Comunicação do PT, articulou nomeações para postos-chave em boa parte dos demais fundos, entre eles a Fundação Real Grandeza, de Furnas. O que surge agora é um forte indício de que em algumas instituições a camaradagem foi além. Influiu em decisões de investimento e beneficiou o Banco Rural e o BMG, ambos no epicentro do terremoto político que abala o país. O primeiro, como se sabe, foi usado pelo publicitário Marcos Valério para fazer saques em dinheiro de 21 milhões de reais. E o BMG liberou aquele empréstimo de 2,4 milhões ao PT que o presidente do partido, José Genoíno, disse que assinou sem ler. A Petros, o segundo maior fundo de pensão do país, tem 78,1 milhões de reais aplicados em dois fundos do BMG e 24,5 milhões em um fundo do Banco Rural. Na Real Grandeza os números são espantosos. Em dezembro de 2004, o fundo tinha 146 milhões no Rural e 98,6 milhões no BMG.

O que chama atenção nos dois casos não é exatamente o montante aplicado, que, embora alto em valores absolutos, é pequeno se comparado ao patrimônio das duas instituições e está dentro dos limites legais. O que acende a luz amarela é o fato de dois bancos de segunda linha, que tiveram suas relações com o PT e com Marcos Valério reveladas recentemente, ganharem tanto espaço nos investimentos de dois dos maiores fundos de pensão do país. No segundo trimestre do ano passado, a Petros – que na gestão anterior não aplicava no Rural nem no BMG – tinha 5,2 milhões de reais em fundos do primeiro e 13,5 milhões no segundo. Ou seja, em um ano, as aplicações cresceram, respectivamente, 371% e 478%. A Petros explica que esses fundos – os fundos de investimento em direito creditório – são atraentes porque têm um baixo risco de crédito e fazem parte de sua política de diversificação da carteira. No mercado, esses fundos vêm realmente crescendo, mas em ritmo significativamente menor.

Nilton Fukuda /AE
MARCELO SERENO
Indicações para cargos que administram bilhões de reais


Na Real Grandeza, o então diretor de investimentos, Benito Siciliano, indicado pelo PTB, dividiu as aplicações em renda fixa por cinco bancos privados. Todos de segunda linha – Rural, BMG, Mercantil, Panamericano e Santos. Juntos, o Rural e o BMG chegaram a representar quase 50% dos investimentos do fundo em CDBs. Esse segmento de bancos costuma oferecer remuneração atraente, até porque são aplicações de risco mais alto que o dos papéis das grandes instituições. O resultado é que a fundação teve um prejuízo de 153 milhões de reais, Siciliano foi demitido e os problemas administrativos explodiram. O presidente da Real Grandeza, Marco Gomes, diz que nenhum desses bancos está credenciado para receber novas aplicações do fundo e que não renovará os investimentos à medida que eles forem vencendo. Resta a dúvida: como o décimo maior fundo de pensão do país permitiu tamanha autonomia de um diretor? Mais provavelmente, o que está por trás dessa desastrada performance é o loteamento político de sua diretoria entre PT, PP, PMDB e PTB. No fim, ninguém se entendeu e quem pagou a conta foram os participantes do fundo.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog