Folha de S Paulo
BRASÍLIA - O ministro Luiz Gushiken é um caso exemplar de como uma pessoa se transforma ao chegar ao poder. Como deputado, vivia mandando cartas para o Palácio do Planalto de FHC exigindo dados e mais dados da publicidade estatal federal. Queria fiscalizar os gastos com a mídia. Estava certo.
Cópias de algumas dessas cartas de Gushiken repousam nas gavetas da Sucursal da Folha, aqui em Brasília. O então deputado petista perguntava quais eram as agências licitadas, quanto recebiam, para quem trabalhavam dentro da administração pública. Hoje, a história é outra.
Gushiken está à frente da poderosa Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. As informações disponíveis nessa área, por ironia, só existem porque a coleta teve início nos anos FHC.
Graças a esses dados, é possível prever que Gushiken está para bater um recorde. O governo Lula pode gastar neste ano mais de R$ 900 milhões com publicidade, nas administrações direta e indireta. FHC chegou a torrar R$ 881,5 milhões em 2001.
Some-se aos possíveis R$ 900 milhões deste ano as despesas com a produção dos comerciais, os patrocínios estatais e as propagandas legais (balanços, editais) e se chega a algo entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,3 bilhão.
Até aí, OK. Gushiken entrou para o governo e mudou. É mais uma transmutação no mundo petista.
O curioso, para dizer o mínimo, é um cunhado do ministro ter experimentado o milagre do crescimento durante o governo Lula. Luís Leonel, o cunhado, dobrou as receitas publicitárias estatais para suas revistas, todas sem circulação auditada.
O Banco do Brasil já pagou a Leonel R$ 647.248. A Petrobras, R$ 1 milhão. E por aí vai. "Nunca sugeri, indiquei, determinei ou comandei a contratação de anúncios", escreveu o ministro. Tenha dó. Assim como Lula não sabia do "mensalão", Gushiken diz pouco influir na publicidade estatal. É um caso para a ciência a pureza (sic) da administração petista.
Entrevista:O Estado inteligente
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