Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 17, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Não sobra um, meu irmão

folha de s paulo

  BRASÍLIA - Com essa profusão de confissões e acusações, fica a sensação de que Marcos Valério e Delúbio estão se matando entre eles e a fim de explodir o PT. Parece. Mas, será?
É mais razoável supor que Valério e Delúbio estão falando a mesma língua e que há um cérebro por trás: José Dirceu, cumprindo a profecia do pefelista Roberto Brant: "Essa turma tem alma de guerrilheiro e vai morrer atirando".
No primeiro momento, atirando contra o próprio PT, cuja nova direção ameaça fazer uma "devassa" no partido. Valério foi à TV e soltou nota batendo numa única tecla: os milhões detectados pelo Coaf (o órgão de controle financeiro) iam direto para os petistas por orientação de Delúbio. E o que Delúbio disse à Procuradoria? Que todos os petistas têm caixa dois de campanha.
Em vez de ficarem na defesa, pois, Dirceu, Delúbio e Valério partem para o ataque. E quem tem que se defender são Tarso Genro, Eduardo e Marta Suplicy, Fernando Pimentel e vai por aí afora. No momento seguinte, eles também vão sair da defesa e partir para o ataque, agora contra tucanos, pefelistas e cia., alegando que todos, e não apenas todos os petistas, têm caixa dois. Quem nunca teve que atire a primeira pedra!
As CPIs e o Congresso viram uma anarquia. E, nesse mar de lama, não sobra energia para as investigações efetivamente relevantes neste momento: afinal, de onde veio mesmo a dinheirama de Valério? De "empréstimos bancários"? Ou de desvios de órgãos públicos? Uma coisa é caixa dois, que não é bonito nem legal, mas todos fazem. Outra, ainda pior, é corrupção. Não dá para centrar num e abandonar o outro, como o trio Valério-Delúbio-Dirceu quer.
No mais, o novo "núcleo duro" está felicíssimo. É lama? Que seja dividida irmamente, porque, corrupto por corrupto, ele ainda é menos que os demais no imaginário popular. Sua chance em 2006 não é ser o melhor, mas o menos pior.

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