Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 17, 2005

CLÓVIS ROSSI Daslu, nobres e servos

folha de s paulo

PARIS- Quer dizer, então, que a Fiesp quer promover um ato público contra a "arbitrariedade" da Polícia Federal no caso Daslu?
Daria até para aceitar o rótulo, desde que a Fiesp tivesse, no devido momento, convocado atos similares para protestar contra arbitrariedades sem aspas, porque bem mais notórias. Refiro-me, só para ficar em casos espetaculares, ao da Favela Naval ou ao do Carandiru.
Como houve ensurdecedor silêncio então, fica difícil agora discordar de Jorge Maurique, presidente da Ajufe (Associação dos Juizes Federais do Brasil), quando diz:
"Consideramos que esse tipo de reação é resquício do período em que convivíamos com uma distinção entre nobres e servos, estando os nobres acima da lei".
É bom ter claro que a Daslu não está sendo investigada porque virou uma espécie de símbolo da desigualdade no país da desigualdade. Está sendo investigada por suspeita de uma porção de outros crimes, estes sim capitulados nos códigos, entre eles sonegação fiscal.
Mas a reação medieval de certos setores confirma a descrição feita pelo presidente da Ajufe. Caso, por exemplo, do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), que disse:
"Essa prisão pode gerar uma crise econômica, afugentar investimentos internacionais do país. O empresário vai dizer: para que vou investir no Brasil se posso ser preso?".
Lembro ao senador que, na mesma quarta-feira da operação na Daslu, um grande empresário, Bernard Ebbers, estava sendo condenado a 25 anos de cadeia, nos Estados Unidos, por uma fraude contábil que causou a maior quebra empresarial da história norte-americana.
E que sua foto estava exposta na primeira página pelo menos do jornal espanhol "El País".
Até nos Estados Unidos, a terra do empreendedorismo, empresários podem, sim, ser presos. E expostos. Por que o senador exige que, no Brasil, os "nobres" fiquem acima da lei?

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