ELIANE CANTANHÊDE Não acerta uma

folha de s paulo

  BRASÍLIA - A crise política é enorme, e a "reforma ministerial" está sendo mínima, como se Lula usasse um regador de um litro e meio para apagar um incêndio na Amazônia. Certamente não é nomeando o Silas isso e o Saraiva aquilo para Minas e Energia e Saúde (sim, Saúde!) que o presidente irá recuperar a dianteira do processo e o controle da situação.
Ainda mais porque Lula tem o ônus sem o bônus. Logo depois do anúncio constrangedor dos novos ministros no Planalto, o comando e os governadores do PMDB soltaram nota desautorizando tudo. É o governo, mais uma vez, trôpego, confuso e mal-assessorado no que se pensava que Lula tinha de melhor: a habilidade e a sensibilidade política.
A "reforma", que deve ter novos lances amanhã, é apresentada como uma tentativa do Planalto para sair da perplexidade e mostrar vitalidade. Palocci faz a sua parte, reunindo empresários e políticos governistas e da oposição para discutir algo concreto: o déficit zero sugerido por Delfim. Márcio Thomaz Bastos igualmente se esforça, sentindo os humores de caciques como FHC e ACM.
Até a oposição ajuda, não gritando "fora, Lula!" nem ameaçando a "governabilidade" e a "estabilidade", por mais que investigações paralelas, divulgadas aos borbotões pela imprensa, mostrem práticas nada bonitas no entorno do presidente.
Há, portanto, um cordão de isolamento para evitar que Lula seja atingido pela crise e pela lama. Mas, peraí, ele precisa corresponder à sua fantástica biografia e ajudar. Ou, pelo menos, não atrapalhar.
Aqui no país, ainda se ouve e se lê que Lula está "irritado", "triste", blablablá. E lá fora? O Lula que participa da reunião do G-8 hoje, na Escócia, e do Ano do Brasil na França, na semana que vem, em Paris, certamente não é o mesmo de dois anos atrás aos olhos do mundo.
Antes de morrer, Sérgio Motta implorou a FHC: "Não se apequene!". Deveríamos todos gritar em coro agora: "Nem você, Lula!".