Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 17, 2005

Editorial de O Globo Os fundos na crise




O deputado Roberto Jefferson previu em entrevista a um jornal argentino que o próximo escândalo envolverá fundos de pensão de empresas estatais. Não se sabe se há algo consistente no arsenal de denúncias de Jefferson. Mas para quem conhece o histórico desses fundos, a aposta do deputado faz sentido.

Principalmente quando se considera que um dos alvos do projeto de aparelhamento da máquina pública seguido pelo PT é o controle desses importantes instrumentos financeiros. Hoje, militantes ou simpatizantes do partido ocupam cargos estratégicos em praticamente todos os fundos de estatais de peso, ou nas mantenedoras deles.

Os fundos de pensão como um todo, privados e estatais, já equivalem a mais de 10% do PIB. Apenas o Previ, do Banco do Brasil, o maior da América Latina, tem um patrimônio na faixa dos R$ 60 bilhões. Para qualquer partido ou grupo político com algum projeto de poder ambicioso, faz sentido, portanto, ter acesso ao controle dessas instituições.

Um indício de que Roberto Jefferson também nessa questão dos fundos pode saber do que está falando surgiu na reportagem publicada no domingo passado pelo GLOBO. Nela ficou evidente uma contrapartida concedida por fundos de estatais aos bancos Rural e BMG, por eles terem liberado empréstimos ao PT — e/ou prestado algum outro tipo de serviço ao partido. Com a publicação da reportagem, veio uma previsível enxurrada de notas e justificativas técnicas para o fato de fundos como Petros (Petrobras) e Real Grandeza (Furnas) terem destinado vários milhões a FIDCs desses bancos.

Em certa medida, a operação pode ser defendida tecnicamente, pois os FIDCs são títulos lastreados em empréstimos consignados, pagos por desconto na folha de salário dos beneficiários. Ou seja, o risco é quase nulo. Mas são operações no mínimo vulneráveis do ponto de vista ético — e por isso devem ser esquadrinhadas.

Roberto Jefferson à parte, há décadas esse universo de fundos de pensão de estatais é um mundo de névoas, por onde transitam bilhões sem maiores controles e transparência — salvo as auditorias externas de praxe. Mas estas perderam credibilidade depois dos escândalos empresariais americanos.

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