Momentos como os que ora vivemos, marcados por denúncias e evidências de corrupção, representam uma oportunidade para que o país reflita sobre si mesmo, suas instituições e seu futuro. É verdade que, no calor das descobertas, dos depoimentos e do frenético levantamento de indícios, as avaliações tendem muitas vezes ao pessimismo, afigurando-se a história e o destino do país como uma grande e incorrigível tragédia.
Não é mau, contudo, que seja assim, desde que as frustrações e a revolta acumuladas se traduzam posteriormente em avanços institucionais. O atual escândalo, envolvendo a apropriação de fundos públicos e a movimentação de dinheiro sem origem definida por partidos e políticos, tem gerado inúmeras manifestações em favor de reformas.
Um dos principais focos é a reorganização do sistema político de modo a diminuir a infidelidade partidária e, sobretudo, disciplinar as doações de campanha. Cada vez mais vai ficando claro o que esta Folha tem defendido neste espaço: a destinação de mais recursos públicos para financiar candidaturas não é o melhor caminho a ser trilhado.
O problema não está na possibilidade de que partidos e políticos possam ser contemplados com doações privadas, mas no fato de essas contribuições serem, em considerável medida, realizadas de maneira clandestina. E, aqui, a questão que muitas vezes é vista como da alçada política revela também sua dimensão privada. Afinal, os recursos de caixa dois utilizados para beneficiar partidos em operações "por baixo do pano" não surgem do nada. São fruto de operações irregulares realizadas por empresas.
Muitos dirão que os próprios partidos e candidatos preferem essa modalidade de doação, mas há também relatos de representantes da classe política que dão conta de que empresários nem sempre estão dispostos a oferecer dinheiro "por cima da mesa", preferindo incorrer em ilicitudes para manterem-se no anonimato.
O mais razoável é reconhecer que existe uma comunhão de interesses entre esses dois círculos. Público e privado embaralham-se de uma maneira especialmente perversa na tradicional informalidade brasileira. Políticos vêem na vida pública uma oportunidade de auferir ganhos servindo como mediadores de interesses privados, que, por sua vez, encaram o Estado como uma estrutura que deve ser posta a seu serviço.
É fato que há circunstâncias institucionais a estimular a sonegação, a remessa irregular de recursos para o exterior e toda a parafernália de expedientes utilizada para alimentar essa verdadeira economia paralela que existe no país. Não há dúvida que simplificações tributárias e outras medidas assemelhadas tenderiam a minimizar o problema -e precisam ser tomadas, juntamente com as reformulações do sistema político.
Mas é forçoso constatar que os embaraços de que muitos reclamam nem sempre são os verdadeiros responsáveis pelos subterfúgios largamente adotados. De certa forma, eles são úteis, pois servem para "justificar" a cultura pouco republicana que desde sempre marca nossa história.
É ilusório acreditar que seja possível modificar um quadro como esse da noite para o dia, mas seria razoável crer que forças comprometidas com a moralidade pública, uma vez investidas de um claro mandato popular para promover mudanças, poderiam exercer um papel transformador.
Foi o que muitos brasileiros acreditaram que aconteceria com a chegada do PT ao poder federal. Deploravelmente, aqueles que receberam dos cidadãos brasileiros um voto de confiança para fazer deste país uma nação mais republicana revelaram-se indignos dessa confiança. Como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua recente visita a Paris, o Brasil merecia coisa melhor.
Entrevista:O Estado inteligente
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