
As descobertas permitidas pela quebra do sigilo bancário das agências de publicidade de Marcos Valério têm produzido um esboço nítido de um grande esquema de lavagem de dinheiro para financiar campanhas e parlamentares no exercício do mandato. Na fase de campanha, o esquema de Valério foi democrático, servindo a candidatos que viriam a ser da oposição. Caso de Roberto Brant, deputado federal pelo PFL de Minas.
Vitorioso Luiz Inácio Lula da Silva, o caixa dois do PT parece ter ocupado toda a capacidade instalada da lavanderia de Valério, voltada, tudo indica, para atender exclusivamente à demanda de petistas e de políticos aliados.
Um dos pontos centrais em todo esse escândalo é saber em troca de quê empresas privadas fazem contribuições dissimuladas, e como o sistema de irrigação farta de dinheiro escuso pode ter sido abastecido também por recursos públicos. Há suposições para responder a essas questões. E casos concretos ilustrativos: o Land Rover presentado a um dos homens fortes do governo petista, Sílvio Pereira, por um empreiteiro dependente de encomendas da Petrobras; e a bolada sacada de uma conta de Valério pelo diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. O dirigente, que pediu aposentadoria assim que o saque foi detectado, respondia pela área de marketing do BB, estratégica para qualquer publicitário.
Salvo provas em contrário, um dos guichês dessa lavanderia financeira presta favores a empresários que foram generosos no período de campanha. E para isso é imprescindível que os partidos no poder tenham aparelhado a máquina pública, colocado pessoas de confiança em postos-chave. O aparelhamento funciona também para permitir o recolhimento de comissões para financiar partidos e políticos. O caso exemplar é o do IRB, doado ao PTB pelo governo Lula. Essas comissões são embutidas em contratos, pagas portanto pelo contribuinte, num claro desvio de dinheiro público.
Por tudo isso, o corte no número de cargos de confiança à disposição dos políticos, executado pelo governo na sexta-feira, tem grande importância. Mas deve ser apenas o começo de uma reforma mais ampla para modernizar a administração pública e assim protegê-la dessa mistura perniciosa da política com negocistas.
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