Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 24, 2005

Editorial de O Globo Negócios e política




As descobertas permitidas pela quebra do sigilo bancário das agências de publicidade de Marcos Valério têm produzido um esboço nítido de um grande esquema de lavagem de dinheiro para financiar campanhas e parlamentares no exercício do mandato. Na fase de campanha, o esquema de Valério foi democrático, servindo a candidatos que viriam a ser da oposição. Caso de Roberto Brant, deputado federal pelo PFL de Minas.

Vitorioso Luiz Inácio Lula da Silva, o caixa dois do PT parece ter ocupado toda a capacidade instalada da lavanderia de Valério, voltada, tudo indica, para atender exclusivamente à demanda de petistas e de políticos aliados.

Um dos pontos centrais em todo esse escândalo é saber em troca de quê empresas privadas fazem contribuições dissimuladas, e como o sistema de irrigação farta de dinheiro escuso pode ter sido abastecido também por recursos públicos. Há suposições para responder a essas questões. E casos concretos ilustrativos: o Land Rover presentado a um dos homens fortes do governo petista, Sílvio Pereira, por um empreiteiro dependente de encomendas da Petrobras; e a bolada sacada de uma conta de Valério pelo diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. O dirigente, que pediu aposentadoria assim que o saque foi detectado, respondia pela área de marketing do BB, estratégica para qualquer publicitário.

Salvo provas em contrário, um dos guichês dessa lavanderia financeira presta favores a empresários que foram generosos no período de campanha. E para isso é imprescindível que os partidos no poder tenham aparelhado a máquina pública, colocado pessoas de confiança em postos-chave. O aparelhamento funciona também para permitir o recolhimento de comissões para financiar partidos e políticos. O caso exemplar é o do IRB, doado ao PTB pelo governo Lula. Essas comissões são embutidas em contratos, pagas portanto pelo contribuinte, num claro desvio de dinheiro público.

Por tudo isso, o corte no número de cargos de confiança à disposição dos políticos, executado pelo governo na sexta-feira, tem grande importância. Mas deve ser apenas o começo de uma reforma mais ampla para modernizar a administração pública e assim protegê-la dessa mistura perniciosa da política com negocistas.

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